Raíces de América III

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Por Marcelo Mendez

Que delicia foi o ano de 1962 para o Brasil!

Saímos do nosso intrínseco “viralatismo” e agora comandávamos o mundo. Tínhamos uma seleção de basquete campeã, Maria Ester Bueno no Tênis, Bossa Nova – aquele gênero musical que acha que qualquer coisa que saia da Zona Sul não vale absolutamente nada e ludopedicamente, nossa… Éramos bicampões do mundo, torcida brasileira!

Depois de uma tragédia esportiva – que se tornou tragédia pelos piores motivos, causando conseqüências irreparáveis e injustas aos jogadores – da perda do titulo mundial de 1950, jogando em casa, retomamos nossa grandiosidade bronzeada e vencemos duas Copas do Mundo em sequência. Uma na Suécia e outra no Chile. Éramos, portanto o que a molecada diria hoje como sendo “os caras!”

Nosso futebol vivia sua Golden Age!

Para cada time nosso no mínimo três craques. O Botafogo tinha Didi, Garrincha e Quarentinha; o Flamengo tinha Dida, Evaristo, Silva; o Palmeiras tinha Ademir da Guia, Chinesinho, Julinho Botelho e Nardo… Mas nada disso era comparável ao Santos:

“Zito, Mengalvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe”

Soa quase que como um soneto. Esses homens são responsáveis, direta e indiretamente, por quase 2.000 gols assinalados em menos de 10 anos e formaram sem dúvida, o maior time do Mundo de todos os tempos. O Santos dos anos 60 não jogava apenas bola, não jogava apenas por títulos. Entrava em campo pela imortalidade de seus feitos. Assim já era Gigante quando decidiu se enveredar pela supremacia do futebol da América do Sul. Naquele ano, chegou sem problema algum na final e era favoritíssimo ao titulo que se imaginava vir sem maiores problemas.

Acontece que o Santos não jogaria um campeonato qualquer. Falamos de La Copa. E para a final, o time de Pelé enfrentaria um time tão grandioso quanto:

O Penãrol.

O time uruguaio era uma máquina, então o atual bicampeão da Copa de Campeones de América (nomenclatura da Copa Libertadores da América na época) e campeão mundial, com duas sapatadas dadas em cima do Benfica de Eusébio, destacando-se a goleada por 5 a 0 na visita dos encarnados à Montevideo. Tal qual os santistas, sua linha de frente era dos sonhos:

Alberto Spencer, Juan Joya, José Sasia e um jogador que de tão classudo poderia jogar de fraque e cartola; Pedro Rocha.

El Verdugo foi daqueles camisas 10 que fazia o tempo e as galáxias pararem pra vê-lo jogar futebol. Já chamava atenção pela América do Sul e aqui, já havia ajudado o Peñarol a conquistar o título sul-americano em cima do Palmeiras. Um jogador de futebol monstruoso! Dessa forma as equipes foram a baila. Na partida de ida o Santos saiu perdendo com o Peñarol marcando com Spencer, virando com dois gols de Coutinho e assim terminou o primeiro jogo da final.

02 de Setembro de 1962

Ano passado, pouco antes da Copa do Mundo, o jornal em que trabalho me escalou para ir até São Caetano onde aconteceria uma homenagem aos campeões mundiais. Na ocasião, tive a oportunidade, a honra de falar com Zito, capitão, camisa 5 e dono daquele time. Seu Zito jogou muita bola! Mas tanta bola que até Pelé o fazia continência. Foi um grande.

La pelas tantas da noite, conversávamos durante o coquetel e em dado momento José Ely de Miranda recorda daquela final de 1962:

“O jogo lá em Montevidéu foi duro, mas bem jogado. O povo ficou muito preocupado com negócio de violência, claro que teve umas pernadas dos dois lados. Mas, o que mais me preocupou foi o time deles. Que beleza de time…”

Era o senso comum aqui para os nossos lados, achar que todo vizinho que jogava futebol era um botinudo, malvado e vilão enquanto nós, bronzeados de sol e samba, éramos leves e poéticos que só queríamos saber de dar show. Um erro.

Tanto na Argentina, quanto no Uruguai, sempre houve grandes esquadrões que se isolavam do outro lado do Rio da Prata e pouco se sabia por aqui. La Copa veio justamente para acabar com isso. E a partida de volta na Vila Belmiro entre Peixe Manya, veio pra acabar com essa balela de que somos bonzinhos…

Naquele domingo, o árbitro Chileno Carlos Robles apitou o inicio do Match. Em um começo muito bom o Santos abriu o placar com Dorval logo aos 7 minutos do 1º Tempo. A confiança era tanta, que mesmo sem Pelé, machucado, quem estava na Vila já imaginava outra daquelas goleadas retumbantes do Santos. Ledo engano…

Aos 14, o equatoriano Spencer – apelidado Cabeza de Oro – empata a peleja.

O Santos não se abalou e virou o placar com gol de Mengálvio.

Porém, com a vantagem a equipe relaxa e o jogo pega fogo. Pagão que substituía Pelé perde a paciência com Juan Lezcano e acerta uma cabeçada no zagueiro paraguaio, que o árbitro chileno Carlos Robles não vê. Assim como não viu o revide de Roberto Matosas no atacante santista. O clima esquenta o Santos se perde em campo e Pedro Rocha toma conta do jogo. O camisa 10 carbonero baila, conduz, distribui passes, passeia e dessa forma, não demorou para Spencer empatar novamente o jogo.

Em meio às comemorações dos uruguaios, o goleiro Gilmar reclama com Robles. O camisa 1 aponta para Sasia, mostra o campo e o acusa de ter jogado areia nos olhos.

O caos se instaura na Vila!

Bate-boca, invasão do gramado, pelo inusitado da coisa; durante a bola parada, o esperto ponta direita se abaixa, enche as mãos com um tufo de areia do campo e tasca nos olhos do arqueiro que, atrapalhado, levou o segundo gol.

A confusão seguiu e como diria minha mãe Dona Claudete, tomada por seu Pernambuco; “foi um xarivari da gota!” Para acabar de lascar, no meio desse fuá, um torcedor inconformado, no alto de sua indignação, arremessa uma garrafa de Crush na cabeça do banderinha que precisa ser atendido.

Embrulhado de pano, com um chumaço de faixas na cabeça do vivente, recomeça o jogo. E para o azar de quem poderia imaginar um jogo fácil, o mesmo Sasia, autor do arremesso de areia, aproveita um cruzamento pra deslocar Calvet e anotar o terceiro tento aurinegro.

Recomeça a pancadaria!

Dirigentes, gândulas e jogadores do Santos, todos pressionam o árbitro reclamando falta. O Estádio Urbano Caldeira vira um inferno e as coisas ficam impossíveis de serem contidas. O Peixe, se sentindo garfado não se conforma. Na volta do jogo, o time da Baixada vai pra cima de forma desordenada e nada consegue. O pau come e o apitador com medo, nada faz. O tempo rola ninguém sabe ao certo dos acréscimos e no meio da confusão, Pagão empata o jogo. O 3 a 3 daria o título pro Santos, mas então, acontece o insólito…

Carlos Robles some do campo! Imaginando que o jogo havia acabado, Pepe encontra Edgardo González, seu marcador ali pelo vestiário.

“Ele me disse que não… Que nada daquilo havia valido. Que o jogo já tinha acabado” relembra o Canhão da Vila.

Inacreditável!

Com medo se não sair vivo da Vila Belmiro, Carlos Robles deixou o jogo correr até o Santos empatar. Antes ele havia avisado o capitão do time uruguaio que o jogo já havia terminado em 2 x 3 e na primeira oportunidade que teve após o gol de mentira de Pagão, correu para os vestiários.

Campeão da América

Na sumula, o chileno relatou que o jogo havia acabado por falta de segurança e que o terceiro gol fazia parte de um teatro que ele havia criado para sua sobrevivência. Uns dias depois a Conmebol invalidou o 3 a 3 e deu a vitória para o Peñarol. Uma terceira partida foi marcada para Buenos Aires, na qual o Santos goleou os carboneros por 3 a 0, conquistando o seu primeiro título continental.

Dessa vez, valeu…

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