Bateu no João, bate no John

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Se o sujeito quer falar dos problemas do futebol brasileiro, deve, por favor, me chamar para esta resenha. Não vai faltar assunto e nós vamos sair da mesa do bar tinindo de desgosto, embora fortalecidos. Outro convite que aceito de prima: assistir um jogo do Liverpool. Enquanto Gerrard joga bola e não pisa na MLS, ah, rapaz, eu preciso desfrutar e ele nem precisa tocar na bola. Ótimo, tenho amigos para dividir cervejas em ambos os casos.

Agora, ninguém vai bater no futebol brasileiro na minha frente e usar o futebol inglês como exemplo de algo que dá certo. Não dá. Não deu. Parece que o sujeito sente necessidade de aliar estética e prazer, e junta tudo na mesma panela como se fossem, as coisas, sinônimos uma da outra (coitadas de suas namoradas ou namorados).

O futebol inglês tem 20 times na primeira divisão, e mais uns 200 nas de baixo. No máximo 5 times jogam um futebol atrativo, bonito, encantador, ao mesmo tempo. O esporte mais desejado e querido do planeta é mal jogado por, pelo menos, 95% das equipes. Não é um paradoxo delicioso? Eu também gosto de assistir a nata da nata, estes 5% de times bons, um Manchester x Arsenal, mas é disso que se trata o futebol?

Sinto muita falta do senso crítico em via de mão dupla. Carinha chega na internet e afirma categoricamente que a Premier League é muito melhor de assistir do que o Brasileirão. Oh really?  Que o futebol brasileiro é um poço de desorganização, que não tem credibilidade e nenhum timaço. É, é até verdade, e da grama pra dentro a comparação entre os campeonatos é desnecessária. Mas ninguém vai bater no futebol do Brasil como se ele fosse o culpado pela própria morte, o causador do próprio estupro. Cada um está morrendo à sua maneira. O futebol inglês vive uma morte espetacular, plástica, e é esta a diferença essencial entre as duas casas da bola.

Ou o futebol inglês é mais limpo que o brasileiro? O dinheiro movimentado para manter e trazer tantos craques e “craques” à terra da Rainha é de um volume e procedência tão vergonhosas que o Brasil tem que se orgulhar de não ter o mesmo aqui. É cômoda e covarde a análise meramente técnica do esporte, até porque o resultado técnico é um fim que não pode ser buscado através de quaisquer meios. O modelo econômico dos ingleses, para trazer até sua televisão em Anapolina-GO uma dúzia de excelentes jogos por temporada, destruiu o estilo de vida de centenas de milhares de torcedores e envelopou as redondezas em um papel de cinismo sonso, acrítico, deslumbrado. Valeu a pena?

Por incrível que pareça, fora de campo eu prefiro meu Brasilzinho velho de guerra. Que não tem motivo algum para comemorar. Que não está saudável em nenhuma esfera futebolística. Que perde suas potenciais referências técnicas para Chinas e Estados Unidos que pagam por eles menos do que pagariam pelo volante do Southampton. Pois é assim que funciona a vida focada e pautada no capital: com o tempo a pirâmide fica bem visível, na base muitos, na ponta poucos.

E então, afinal, o futebol volta a ser metáfora de um sistema. Cinco, no máximo seis times jogam bem em um universo de 200, 300. Estão no alto da pirâmide. E quem contempla, aplaude os de cima enquanto debocha e humilha os de baixo, não importando a forma como esta pirâmide foi construída. Isso acontece exatamente da mesma forma na sua vida social, no seu desgraçado dia-a-dia. Eu também tenho vontade de ser rico, viu? Enquanto não sou, não me peça moralismo seletivo para defender os patrões endinheirados que comandam as empresas que não me contratam e, na metáfora da bola, mandam nos times de futebol que não me desejam nas arquibancadas – que nem existem mais, pois são cadeiras.

Bateu no João, vai ter de bater no John também. Cada um com seu crime.

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