Rino Della Negra, jogador e partisan

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“Mande saudações e o adeus a todos do Red Star*”.

Estas foram as últimas palavras de Rino Della Negra, em carta de despedida antes de ser fuzilado pelos nazistas.

Estamos no dia 21 de fevereiro de 1944, na cidade de Fresnes, subúrbio de Paris. Os 22 membros do grupo Manouchian*, através do qual alguns membros ficaram imortalizados na funesta “Affiche Rouge” *, vão ser assassinados no Mont-Valérien. Faz muito frio nesta tarde invernal parisiense. Às 15h29, o pelotão de fuzilamento tira a vida de Rino Della Negra, de apenas 20 anos, e de seus companheiros Georges Ferdinand Cloarec, Cesare Lucarini e Antonio Salvadori.

Nosso herói nasceu em 18 de agosto de 1923, em Vimay, norte da França. Seu pai era um pedreiro nômade que levava consigo sua família em busca de canteiros de obra. Mas em 1926 eles acabaram se instalando definitivamente em Argenteuil, pequena cidade conhecida pela sua significativa comunidade italiana. Com a chegada do fascismo nos anos 20, os imigrantes da velha bota chegaram em peso, sobretudo no bairro de Mazagan, onde já moravam 2 200 oriundi. Foi nessa mesma época que os Della Negra chegaram para se instalar na rua Sannois, 119. Pequeno e importante detalhe: Este acanhado vilarejo se constituiu o berço da Itália antifascista na França (segundo o livro de Antonio Canovi, no Tempo das Cerejas). Uma identidade politica forte que terá grande importância em seguida. A curta vida de Rino será fortemente ligada a esta nova comuna de adoção (uma rua dali leva seu nome).

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Execução de Rino

O menino é exemplar. Aluno estudioso. Mas a época não é propicia à ascensão social. Os filhos de operários permanecem operários e, com a crise, não há outra alternativa senão trabalhar desde menino. Em 1937, aos 14 anos de idade, ele começa na labuta como aprendiz na fábrica Chausson d’Asnières. Na mesma época começa a dar os seus primeiros chutes. Rino começou nos times amadores do bairro, times já tradicionais, formadores de bons jogadores como O Football Club d’ Argenteuil. Ele inicia a carreira como centroavante e depois escolhe a ponta direita. No entanto, o futebol não passava de um simples passa tempo. Com o partido de esquerda Front Populaire* no poder, os trabalhadores queriam sobretudo aproveitar o tempo livre. O recente futebol profissional francês (1932) não representava ainda uma boa perspectiva financeira.

Junho 1940. A França capitula. O país esta dividido em várias zonas e cortada em dois sob a famosa linha de demarcação. O futebol recomeça aos poucos sobretudo na região parisiense onde a presença alemã é forte. A repressão é severa sobretudo na periferia operária. A França governada por Vichy* não gosta deste esporte popular. Mas o esporte bretão ainda agrada o povo o qual precisa se divertir nessa época difícil, com as distrações cada vez mais raras. Com a guerra, a contratação de estrangeiros ficou impossível. O Red Star tinha em seu elenco o argentino Helenio Herrera e o húngaro André Simonyi. Restava ao clube como única alternativa, procurar jovens talentos nos clubes amadores da periferia. Foi graças a esta situação excepcional que Rino Della Negra desembarcou no começo da temporada 1942/43 no prestigioso clube parisiense Red Star, campeão da Copa da França da temporada passada. Claude Dewaele, historiador da cidade de Saint-Ouen, recuperou o depoimento do ex-capitão da equipe, o senhor Léon Foenkinos:

“Nunca imaginei que este menino era um italiano que defendia a honra da França. Eu não sabia que ele fazia parte da Resistência. Soube somente em 1944, quando fora fuzilado”.

O jornal Le Réveil publicou após a guerra,  um testemunho sobre Rino:

“Era um jogador inteligente e elegante. Era a grande esperança do Red Star.”

A realidade parece ser bem mais modesta. Nenhum sinal do jovem jogador nas revistas esportivas da época, nem na parte que cabia aos profissionais nem na parta amadora. Não surpreende já que o clube tinha em seu elenco grandes estrelas conceituadas como Fred Aston com seus dribles incríveis e o goleiro da seleção Julien Darui.

Della Negra virou lenda por causa da história, comentou Pierre Laporte, ex-jogador e historiador do Red Star. Sua relação com o clube é real porém tênue.

Mas esta ausência de Della Negra nas efemérides do clube se dá por causa da sua breve passagem por conta de sua militância na resistência. Em junho de 1942, o regime de Vichy* instaurou o STO (Serviço obrigatório de trabalho) para as pessoas nascidas entre 1920 e 1922. 600 000 trabalhadores franceses foram obrigados a ir trabalhar na Alemanha. Em 1943, Rino recebeu a sua convocação. Ele não tinha como partir, pois desde outubro de 1942, Rino entrou para o terceiro destacamento italiano (matrícula 10 293) de um ramo da resistência armada comunista, o chamado FTP-MOI. A partir dai, Rino entrou na clandestinidade acabando de vez com o sonho de jogar bola, depois de passar somente seis meses no glorioso Red Star. Escondido na casa de um amigo armênio, ele entrou de cabeça na guerrilha urbana.

“Já que os FTP-MOI não se sentiam heróis”, explica Benoit Rayski, escritor e autor de um livro sobre o cartaz vermelho, “eles deviam lutar, Não tinham escolha. Depois da derrota na Itália e Espanha, alguns eram antigos soldados das brigadas internacionais, eles não podiam abandonar”.

Em sua última carta à família, Rino escreveu:

“Eu me arrependo de nunca ter lhes contado o que eu estava fazendo, mas tinha que ser assim. Fazem como se eu estivesse no front, sejam corajosos como eu (….)”.

O grupo dirigido por Missak Manouchian se transformou no ano de 1943 no pesadelo dos alemães e sobretudo da sinistra Brigada Especial que se especializou em desmantelar a célula. Durante os seis primeiros meses de 1943, o grupo realizou 92 atentados. Rino participou de quase todos. Participou também da execução, no dia 7 de junho, do general Von Apt, na rua Maspero, décimo sexto distrito de Paris. No dia 10 de junho, ele interveio no ataque à sede central do Partido fascista italiano (deve ter sido o seu maior prazer, sem dúvida), localizado na rua Sédillot, perto do campo de março, no dia do aniversário da declaração de guerra de Mussolini à França. Infelizmente, no dia 12 de dezembro, uma operação no rua La Fayette, contra carros fortes carregando dinheiro alemão terminou em tiroteio. Machucado, ele foi achado, portando um revolver, algumas horas mais tarde, na rua Taitbout e preso. Depois de ter sido tratado no hospital, Rino foi direto para a prisão localizada na rua Cherche-Midi. Durante este tempo, o Red Star teve que se fundir com uma pequena equipe regional, exigência do governo de Vichy. Somente após a liberação é que o time parisiense renasceria.

O combate e o destino deste imigrante da periferia operaria deixou um grande exemplo de luta contra a tirania nazista.

No ano passado, no dia 22 de fevereiro, os torcedores do Red Star fizeram uma bela homenagem ao herói resistente. Uma torcida fora também criada com o nome do jovem italiano, a tifo Rino Della Negra.

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*Red Star: Red Star Football Club 93, time parisiense fundando por Jules Rimet em 1897. Antes da fundação do Paris Saint Germain em 1970, o Red Star formava junto com o Racing Club e Stade Français a trinca futebolística da capital francesa. Atualmente, o Red Star está na terceira divisão do campeonato francês.

*Manouchian: Grupo de partisans formado pelo poeta e resistente armênio Michel Manouchian (Adiyaman, Império Otomano 1906 – Monte Valério 1944). Refugiado na França após o genocídio armênio, foi operário em Paris nos anos 20 e compôs vários poemas publicados pos mortem em 1960. Militante comunista desde 1934, formou uma rede da resistência bem ativa, o chamado grupo Manouchian. Neste grupo havia igualmente húngaros, poloneses, armênios e italianos, a maioria de confissão judaica. De julho a outubro de 1943, o grupo articulou mais de 70 atentados. No dia 28 de setembro, o grupo assassinou no meio da rua o representante de Hitler na França, Fritz Sauckel. Michel Manouchian foi preso no dia 16 de novembro de 1943.

*Affiche Rouge:

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“Cartaz vermelho” em português. Este cartaz foi criado pela agência de propaganda alemã na França. O objetivo era assimilar estes dez resistentes da célula Manouchian a figura de terroristas: A cor vermelha e o triangulo formado pelo retrato mostram agressividade, as seis fotos em baixo, salientadas pelo triangulo, enfatizam os seus aspectos criminais.

No cartaz estão inseridas as seguintes fotos e mensagens:

  • Uma frase de efeito: Libertadores? A liberação pela arma do crime!
  • As fotos, os nomes e as ações lideradas por 10 resistentes do grupo Manouchian:

“Grzywacz: Judeu polonês, 2 atentados.”

“Elek – Judeu húngaro, 8 descarrilamentos”

“Wasjbrot – Judeu polonês, 1 atentado e 3 descarrilamentos”

“Witchitz – Judeu polonês, 15 atentados”

“Fingerweig – Judeu polonês, 3 atentados, 5 descarrilamentos”

“Boczov – Judeu húngaro, 20 atentados”

“Fontanot (Fontano) – Comunista italiano, 12 atentados”

“Alfonso – Espanhol vermelha, 7 atentados”

“Rajman – Judeu polonês, 13 atentados”.

“Manouchian – Arménio, chefe do bando, 58 atentados, 150 mortes, 600 feriados”

– Seis fotos de atentados ou de destruições

Vale lembrar que o cartaz do documentários os Rebeldes do Futebol foi inspirado no cartaz vermelho:

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*Front Populaire: Frente Popular: Coligação de partidos de esquerda que governou a França de 1936 à 1938. Ela iniciou importantes reformas sociais: o estabelecimento de férias pagas, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e a criação da Convenção coletiva de trabalho

**Vichy:  foi o Estado francês dos anos 1940-1944, o qual era um governo fantoche da influência nazista, opondo-se às Forças Livres Francesas, baseadas inicialmente em Londres e depois em Argel. Foi estabelecido após o país se ter rendido à Alemanha nazista em 1940, na Segunda Guerra Mundial. Recebe o seu nome da capital do governo, a cidade de Vichy, a sudeste de Paris, próximo de Clermont-Ferrand. (sic) fonte Wikipedia.

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