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Manifesto

Por Marcelo Mendez, publicado originalmente no ABCD Maior

Esse texto é uma afronta!

Soará como uma bifa na venta daqueles que entendem que o pragmatismo óbvio e ululante é a coisa mais importante do mundo. Uma enorme provocação aos cérebros cansados daqueles que imaginam o mundo pode ser salvo a partir de falácias liberalóides e outras mentiras que nada mais fazem a não ser engessar o verbo. Uma critica contumaz contra aqueles que imaginam que podem tudo contra a poesia.

Não podem!

Vivemos em tempos bicudos, onde a truculência tenta vencer o argumento, uma época onde, para alguns, de nada vale o verso. Em detrimento disso querem metas, boletos e afins. Não. Não será assim.

Por essas linhas escorrerá toda indignação vinda daqueles que lutam para que se mantenham encantos ante a odes de repugnância. Um tratado de fé para quem só beija o rosto de quem dá mais valor para o beijo, do que cem mil réis.

Meu salve pra você Wally Salomão!

Falemos então de futebol de várzea.

Na cidade de São Paulo do começo do século XX, onde tudo era muito pobre nas periferias e não havia nenhuma opção de lazer, os campos da várzea do Glicério surgiram no centro da cidade. Neles, se perpetuou o que pode haver de mais democrático na pratica esportiva. Pretos, brancos, pobres, japoneses, espanhóis, alemães, italianos, libaneses, turcos, todo mundo podia chegar com seu time, ocupar o espaço público e bater sua bolinha. A coisa tomou uma proporção tão grande e tão contumaz que a partir daí se formou um estilo: o futebol de várzea.

Pelos campos de terra espalhados por todas as periferias da cidade, homens suados em suas camisas de pano grosso e suas chuteiras de pregos usavam a velha bola de capotão para criar as mais belas histórias de bola que se viu, ouviu e que não se viu principalmente. Era parte do encanto o bate papo sobre a pelota e ali se formou milhões de cronistas.

Aí o mundo resolveu mudar. Nada contra isso, imaginem. A discussão aqui é outra, falamos da distopia que vem a partir dessa mudança e o que ela ocasiona em setores da sociedade. No caso do futebol de várzea, a coisa veio em uma de suas formas mais abjetas. O campo de grama sintética.

O nome por si só já é auto-explicativo: “sintético”

Agora, em um chão de borracha, forrado por uma grama de plástico verde, com linhas pintadas por tinta acrílica, se inventou que o jogo de futebol deve acontecer sob o argumento de umas facilidades na prática da coisa. E quem disse que o futebol de várzea está atrás dessas “facilidades”? A lógica da grama sintética é perversa.

No lugar dos arrabaldes do mundo onde se podia jogar bola com qualquer duas pedras fazendo as traves, temos quadras pagas com horários pré-definidos em um troço que se chama “futebol society”. Nome auto-explicativo de novo…

Eis que um gênio desses ae resolveu levar essa porcaria para a várzea. Então, agora, tudo por lá passa a ser sintético. Os zagueiros não canelam mais seus atacantes, os chutes são de mentira, os suores são limpinhos, as chuteiras não tem mais travas e os jogos não têm graça. Um horror.

Em detrimento a isso, a crônica de hoje, muito mais que uma homenagem, será um manifesto em prol do que é verdadeiro, do que é a várzea em si. Contra toda a artificialidade de quem acha que pode estender um tapete de plástico em cima da poesia. Acho justo até que tentem. Desde que o estendam longe do futebol de várzea…

 

 

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Folha Seca #84 Barba, Cabelo e Bigode

O Folha Seca #84 conversou com Lúcio Branco, diretor do documentário Barba, Cabelo e Bigode, que mostra as histórias e ideias do trio de ex-jogadores Afonsinho, Paulo Cézar Caju e Nei Conceição.

Contemporâneos e botafoguenses, o trio questionou o modelo do futebol e o conservadorismo da sociedade, cada um à sua maneira, com posturas e propostas que agora são levadas à tela

 

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Diário de Kosovo

Por Victor Faria

Acabamos de chegar de Yerevan. A euforia e a inquietude percebidas, a propósito de nossa classificação são mais intensas do quem em qualquer outro lugar.

Nesse esporte se tem sempre a sensação de que o bem e o mal estão suscetíveis a algum lance, alguma jogada ensaiada ou de improviso. Talvez isso ocorra pela recorrente necessidade de luta de nosso povo.

Com seus cantos intermináveis, as milhares de bandeiras, fomos recebidos em Tirana, objetos de recordação de heróis somente perpetuados em periódicos, capazes de decidir o futuro de qualquer cidadão, independente de suas ocupações ou predileções esportivas.

Os albaneses daqui, ou mesmo os que se encontram noutra cidade, se encontram em estado febril, em êxtase.

https://www.youtube.com/watch?v=iDFiGCvdzfQ

Por desgraça, a ação de antepassados está enraizada em nossa condição. Mas nos ocorre que a obstinação, nosso amor e união são os preceitos que nos levam a glória. Trata-se de uma espécie de consolação a toda a população. Assim como deve ocorrer com os bósnios e eslovacos. Acredito que não há diferença entre a torcida e nós, em campo. Nos momentos de angústia eles sabem se manter unidos no que também é precisamente nosso caso.

A imprensa de todo o mundo, as rádios, televisões, revistas trazem como notícia a alegria em Kosovo. Nos parece difícil de acreditar. Há poucos anos, somente a menção de Kosovo em alguma discussão na Europa provocava ultraje em toda delegação iugoslava.

Naturalmente os organizadores de qualquer torneio europeu não se envolviam em questões políticas e não remetiam ao esporte a questão de independência. Com o horror que teimava em se repetir, nossas aspirações estavam fadadas ao silêncio e à escuridão. Recordo bem do desprezo, da mudez oficial, do descaso de altos funcionários, da falta de conhecimento sobre o nosso território.

Com o passar das Eliminatórias uma certa euforia, recorrente de nossos feitos, acompanhara nossa campanha. Contudo, o jogo contra a Sérvia com toda sua sobrecarga emocional além das quatro linhas, provocara em nós uma angústia maior do que podíamos imaginar. A derrota que em nossa casa experimentávamos naqueles dias fora um duro golpe na memória de milhões de albaneses. Havíamos sido derrotados nos acréscimos, mas nada que impedisse a continuidade de nossa luta.

No dia seguinte ao jogo, dezenas de torcedores nos aguardavam. Acostumados ao comportamento passional dos que torcem, esperávamos uma dura crítica. Eles nos ofereceram o contrário. No curso da conversa cada um deles expressava seu ponto de vista. Reconheciam a possibilidade de classificação e declaravam apoio de forma contundente.

É possível observar que muita gente, sobretudo os dirigente do país, experimentam um certo tipo de reverência em relação ao time, aos jogadores. A Eurocopa nos parece a premissa de novos e gloriosos dias.

Quando a fase final começar, em julho do ano que vem, não deverá ser a vitória a responsável por nosso sucesso, mas nossa entrada em campo representará nossa independência e autonomia. Estamos convencidos de que até o mais distraído e desinteressado torcedor falará com seriedade sobre nosso feito.

Teremos as vozes de toda a população como incentivo apesar dos especialistas em futebol indicarem o fracasso ainda na fase de grupos. Talvez não conheçam nossa recente capacidade de luta e superação.

Tenho a impressão de que em alguma parte (em algum lugar das alturas, no Olimpo ou na capital francesa, por exemplo) os amantes da bola, da igualdade social, da vida irão enaltecer nossa campanha, nossa capacidade em levar o nome de nosso país ao conhecimento de todo o mundo. O testemunho de uma luta em toda sua veracidade e esplendor, do sentimento maior de todo um povo, de uma nação.

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Fronteiras Invisíveis do Futebol #01 Galícia

No programa inaugural, visitamos a Galícia. Dos reinos medievais à invasão muçulmana. Da fusão de coroas que forma o Reino da Espanha à Guerra Civil espanhola, passando pela ditadura de Franco aos imigrantes galegos que atravessam o Atlântico em direção ao Brasil.

Tudo isso explicado com os símbolos do futebol da região, representado principalmente por Deportivo La Coruña e pelo Celta de Vigo, chegando nos dias de hoje, em que um quarto do parlamento local é dominado por partidos autonomistas. E, claro, a importância do idioma, muito parecido com o português.

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Siga el Baile

Enquanto o sol se despedia lentamente da banda oriental, milhares de hinchas se dirigiam ao Centenario para apoiar La Celeste em sua estreia caseira nas Eliminatórias Sul-Americanas. Apesar da boa vitória diante da Bolívia, na abertura da competição, a estimativa de público era tímida para a partida contra a Colômbia, visto que pouco mais de 23 mil ingressos foram vendidos antecipadamente, que variavam de 390 (cerca de R$ 51) à 1.490 pesos uruguaios (aproximadamente R$ 197).

A repórter Silvia Perez, do suplemento esportivo Ovación, publicado pelo jornal El País, registrou os produtos vendidos pelos ambulantes nas imediações do Parque Batlle, e as camisas mais populares eram as de número 9 e 21 – referentes à Luis Suárez e Edinson Cavani, respectivamente – os dois maiores desfalques entre os comandados por Óscar Tabárez, que assim como o Maestro ainda cumprem suspensão.

Tardecita

A ausência de boa parte do público e da dupla de ataque titular – lembrando que foi Edi quem abriu o caminho da vitória na última visita dos cafeteros à Montevideo – levavam a crer que o reencontro com os algozes da última Copa do Mundo seria complicado.

Porém, a liderança de Diego Godín foi novamente decisiva para as pretensões uruguaias e o Mariscal acertou um CABEZAZO sem chances para David Ospina, em outro cruzamento preciso de Carlos Sánchez. Já na etapa complementar, após lançamento despretensioso de Nicolás Lodeiro – que entrou no lugar do lesionado Martín Cáceres aos 19 minutos iniciais – em direção à área adversária, Cristian Stuani e a dupla de zaga tricolor não conseguiram dominar a bola, que sobrou livre para Diego Rolan que só teve trabalho para encobrir o goleiro colombiano.

Com a vantagem construída, o interino Celso Otero ousou ao substituir o Pato Sánchez por Abel Hernández e foi recompensado com uma bela jogada da Joya. Stuani desviou um chutão de Fernando Muslera encontrando o camisa 8 mais adiante, que se livrou da marcação e sem ângulo acertou um petardo de canhota para dar números finais ao baile de La Celeste, que assumiu a ponta com uma campanha inimaginável para os pessimistas de plantão.

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Thunder #76 Nasi

Salve salve minha gente amiga! Nasi, ele mesmo, o Nasi do Ira!, o Nasi do Canal Brasil, o Nasi dos Irmãos dos Blues, o Nasi mais querido da pobre São Paulo, e um amigão de Luiz Thunderbird.

O papo da dupla ao lado de Leandro Iamin foi nostálgico e divertido. Contou com música ao vivo (parceria da casa com a PRIDE!), música do disco novo e papo sobre o distante passado, a vida, as mulheres que amaram e os shows que nunca esqueceram.

Programaço, à altura deste monstro sagrado que é Marcos Valadão Rodolfo.

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Raíces de América III

Por Marcelo Mendez

Que delicia foi o ano de 1962 para o Brasil!

Saímos do nosso intrínseco “viralatismo” e agora comandávamos o mundo. Tínhamos uma seleção de basquete campeã, Maria Ester Bueno no Tênis, Bossa Nova – aquele gênero musical que acha que qualquer coisa que saia da Zona Sul não vale absolutamente nada e ludopedicamente, nossa… Éramos bicampões do mundo, torcida brasileira!

Depois de uma tragédia esportiva – que se tornou tragédia pelos piores motivos, causando conseqüências irreparáveis e injustas aos jogadores – da perda do titulo mundial de 1950, jogando em casa, retomamos nossa grandiosidade bronzeada e vencemos duas Copas do Mundo em sequência. Uma na Suécia e outra no Chile. Éramos, portanto o que a molecada diria hoje como sendo “os caras!”

Nosso futebol vivia sua Golden Age!

Para cada time nosso no mínimo três craques. O Botafogo tinha Didi, Garrincha e Quarentinha; o Flamengo tinha Dida, Evaristo, Silva; o Palmeiras tinha Ademir da Guia, Chinesinho, Julinho Botelho e Nardo… Mas nada disso era comparável ao Santos:

“Zito, Mengalvio, Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe”

Soa quase que como um soneto. Esses homens são responsáveis, direta e indiretamente, por quase 2.000 gols assinalados em menos de 10 anos e formaram sem dúvida, o maior time do Mundo de todos os tempos. O Santos dos anos 60 não jogava apenas bola, não jogava apenas por títulos. Entrava em campo pela imortalidade de seus feitos. Assim já era Gigante quando decidiu se enveredar pela supremacia do futebol da América do Sul. Naquele ano, chegou sem problema algum na final e era favoritíssimo ao titulo que se imaginava vir sem maiores problemas.

Acontece que o Santos não jogaria um campeonato qualquer. Falamos de La Copa. E para a final, o time de Pelé enfrentaria um time tão grandioso quanto:

O Penãrol.

O time uruguaio era uma máquina, então o atual bicampeão da Copa de Campeones de América (nomenclatura da Copa Libertadores da América na época) e campeão mundial, com duas sapatadas dadas em cima do Benfica de Eusébio, destacando-se a goleada por 5 a 0 na visita dos encarnados à Montevideo. Tal qual os santistas, sua linha de frente era dos sonhos:

Alberto Spencer, Juan Joya, José Sasia e um jogador que de tão classudo poderia jogar de fraque e cartola; Pedro Rocha.

El Verdugo foi daqueles camisas 10 que fazia o tempo e as galáxias pararem pra vê-lo jogar futebol. Já chamava atenção pela América do Sul e aqui, já havia ajudado o Peñarol a conquistar o título sul-americano em cima do Palmeiras. Um jogador de futebol monstruoso! Dessa forma as equipes foram a baila. Na partida de ida o Santos saiu perdendo com o Peñarol marcando com Spencer, virando com dois gols de Coutinho e assim terminou o primeiro jogo da final.

02 de Setembro de 1962

Ano passado, pouco antes da Copa do Mundo, o jornal em que trabalho me escalou para ir até São Caetano onde aconteceria uma homenagem aos campeões mundiais. Na ocasião, tive a oportunidade, a honra de falar com Zito, capitão, camisa 5 e dono daquele time. Seu Zito jogou muita bola! Mas tanta bola que até Pelé o fazia continência. Foi um grande.

La pelas tantas da noite, conversávamos durante o coquetel e em dado momento José Ely de Miranda recorda daquela final de 1962:

“O jogo lá em Montevidéu foi duro, mas bem jogado. O povo ficou muito preocupado com negócio de violência, claro que teve umas pernadas dos dois lados. Mas, o que mais me preocupou foi o time deles. Que beleza de time…”

Era o senso comum aqui para os nossos lados, achar que todo vizinho que jogava futebol era um botinudo, malvado e vilão enquanto nós, bronzeados de sol e samba, éramos leves e poéticos que só queríamos saber de dar show. Um erro.

Tanto na Argentina, quanto no Uruguai, sempre houve grandes esquadrões que se isolavam do outro lado do Rio da Prata e pouco se sabia por aqui. La Copa veio justamente para acabar com isso. E a partida de volta na Vila Belmiro entre Peixe Manya, veio pra acabar com essa balela de que somos bonzinhos…

Naquele domingo, o árbitro Chileno Carlos Robles apitou o inicio do Match. Em um começo muito bom o Santos abriu o placar com Dorval logo aos 7 minutos do 1º Tempo. A confiança era tanta, que mesmo sem Pelé, machucado, quem estava na Vila já imaginava outra daquelas goleadas retumbantes do Santos. Ledo engano…

Aos 14, o equatoriano Spencer – apelidado Cabeza de Oro – empata a peleja.

O Santos não se abalou e virou o placar com gol de Mengálvio.

Porém, com a vantagem a equipe relaxa e o jogo pega fogo. Pagão que substituía Pelé perde a paciência com Juan Lezcano e acerta uma cabeçada no zagueiro paraguaio, que o árbitro chileno Carlos Robles não vê. Assim como não viu o revide de Roberto Matosas no atacante santista. O clima esquenta o Santos se perde em campo e Pedro Rocha toma conta do jogo. O camisa 10 carbonero baila, conduz, distribui passes, passeia e dessa forma, não demorou para Spencer empatar novamente o jogo.

Em meio às comemorações dos uruguaios, o goleiro Gilmar reclama com Robles. O camisa 1 aponta para Sasia, mostra o campo e o acusa de ter jogado areia nos olhos.

O caos se instaura na Vila!

Bate-boca, invasão do gramado, pelo inusitado da coisa; durante a bola parada, o esperto ponta direita se abaixa, enche as mãos com um tufo de areia do campo e tasca nos olhos do arqueiro que, atrapalhado, levou o segundo gol.

A confusão seguiu e como diria minha mãe Dona Claudete, tomada por seu Pernambuco; “foi um xarivari da gota!” Para acabar de lascar, no meio desse fuá, um torcedor inconformado, no alto de sua indignação, arremessa uma garrafa de Crush na cabeça do banderinha que precisa ser atendido.

Embrulhado de pano, com um chumaço de faixas na cabeça do vivente, recomeça o jogo. E para o azar de quem poderia imaginar um jogo fácil, o mesmo Sasia, autor do arremesso de areia, aproveita um cruzamento pra deslocar Calvet e anotar o terceiro tento aurinegro.

Recomeça a pancadaria!

Dirigentes, gândulas e jogadores do Santos, todos pressionam o árbitro reclamando falta. O Estádio Urbano Caldeira vira um inferno e as coisas ficam impossíveis de serem contidas. O Peixe, se sentindo garfado não se conforma. Na volta do jogo, o time da Baixada vai pra cima de forma desordenada e nada consegue. O pau come e o apitador com medo, nada faz. O tempo rola ninguém sabe ao certo dos acréscimos e no meio da confusão, Pagão empata o jogo. O 3 a 3 daria o título pro Santos, mas então, acontece o insólito…

Carlos Robles some do campo! Imaginando que o jogo havia acabado, Pepe encontra Edgardo González, seu marcador ali pelo vestiário.

“Ele me disse que não… Que nada daquilo havia valido. Que o jogo já tinha acabado” relembra o Canhão da Vila.

Inacreditável!

Com medo se não sair vivo da Vila Belmiro, Carlos Robles deixou o jogo correr até o Santos empatar. Antes ele havia avisado o capitão do time uruguaio que o jogo já havia terminado em 2 x 3 e na primeira oportunidade que teve após o gol de mentira de Pagão, correu para os vestiários.

Campeão da América

Na sumula, o chileno relatou que o jogo havia acabado por falta de segurança e que o terceiro gol fazia parte de um teatro que ele havia criado para sua sobrevivência. Uns dias depois a Conmebol invalidou o 3 a 3 e deu a vitória para o Peñarol. Uma terceira partida foi marcada para Buenos Aires, na qual o Santos goleou os carboneros por 3 a 0, conquistando o seu primeiro título continental.

Dessa vez, valeu…

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Conexão Sudaca #69 Venezuela

Convidamos o Prof. Nildo Ouriques (UFSC/IELA) para falar sobre a situação política da Venezuela, próximo adversário do Brasil nas Eliminatórias Sul-Americanas, além do depoimento do dia após o MONUMENTALAZO na visão de Andrés Lasso Ruales, jornalista equatoriano que vive em Buenos Aires, e um apanhado geral da 1ª rodada da competição.

Em memória aos 48 anos de morte de Ernesto Che Guevara de la Serna (1928-1967), encerramos o programa com a música Hasta Siempre, Comandante.

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Xadrez Verbal #20 Síria

Putin aumentou a presença russa na Síria e, alguns dias depois, a imprensa dos EUA diz que Obama vai diminuir a presença do seu país no conflito sírio. Vitória da Rússia e de Assad? Como está a situação? E o autointitulado Estado Islâmico, como fica? Vamos falar bastante do conflito sírio, mas não é o único tema do Oriente Médio no programa de hoje.

Os conflitos em Jerusalém correm o risco de escalonar, já existe o temor de uma nova intifada.
Repetimos a pergunta feita antes: de quem é Jerusalém? A posse de locais sagrados e a destruição de sítios arqueológicos são discutidas. Finalmente, novas relações entre Brasil e Bolívia estão na Coluna Aberta. Fechando o programa, Espanha, Líbia, acordo Transpacífico, desabafos e muito mais!

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O problema (ainda) está fora de campo

Por Samuel Sganzerla

O mestre Claudio Carsughi, um dos grandes gênios – se não o maior – da crônica esportiva brasileira, me deixou particularmente feliz na sua análise sobre a derrota da Seleção Brasileira para a equipe do Chile. Afinal, ele me convenceu que eu entendo um pouco de futebol, este esporte pelo qual tenho tanto apreço.

É bom ouvir do próprio mestre algo que critico em Dunga desde a sua primeira passagem pela Seleção: não há um mínimo de variação tática e modificação de esquema da equipe durante a partida. Essa crítica pode ser estendida a todos os treinadores que têm o mesmo ranço de morrerem abraçados nas suas próprias convicções – não vou citar nomes, ou o clubismo falaria mais alto.

Assim como nunca admiti ver uma Seleção ser eliminada na quartas de final de um Mundial com o técnico deixando de utilizar uma das três substituições, não tenho paciência mais com certas coisas que insistem em se repetir desde o famigerado 7 a 1, ano passado. Mesmo não sendo o ponto central do texto, começo, nessa linha, citando três jogadores: David Luiz, Hulk e Oscar

Sobre o zagueiro cabeludo e de personalidade um tanto quanto infantil, costumo repetir: gostaria que todos tivessem comigo a tolerância que a torcida brasileira e a comissão técnica da Seleção têm com ele. Hulk pode se aproveitar de sua explosão física eventualmente, mas costuma ser uma nulidade na armação e na finalização. Oscar é o mais habilidoso dentre diversos jogadores de sua posição, mas é de uma apatia e de uma falta de atitude e de comprometimento tático que chega a irritar – e só aparece e resolve jogar quando ameaçada sua vaga, como contra a Croácia, na primeira fase da Copa do Mundo de 2014; depois, some novamente.

Entretanto, feitas as observações pontuais sobre esses jogadores, o pior de tudo é ouvir o pessimismo e o mantra que se repete desde 2011: “essa geração é ruim, não tem o que fazer”. Que me desculpem os incautos, mas não, ela não é! O atual escrete canarinho pode não ser brilhante nem bastante superior à maioria dos adversários, como foi em outros tempos. Mas em qualquer análise de desempenho, verificar-se-á que o Brasil tem pelo menos um jogador dentre os melhores de cada posição. Basta ver como todas as grandes equipes europeias têm brasileiros em seus elencos.

Qual o problema, então!? Bem, após o massacre da Alemanha em nossa própria casa, muito se discutiu sobre como o futebol evoluiu e nós brasileiros não acompanhados, o que nos deixou TATICAMENTE atrasados em relação a outras seleções. E a tese principal é essa: corrigimos o erro prontamente diagnosticado? Não! Olhamos para a casamata e vemos aquele senhor que merece muito respeito pelo que fez em campo, mas é um BUFÃO na casamata.

O Brasil continua sendo uma da grandes potências do futebol. Falar em ” Neymar-dependência” é falacioso, pois qualquer equipe gostaria de contar com um dos melhores jogadores do mundo para ir lá e resolver a partida. Contudo, o ponto negativo está justamente em manter este pensamento: não perceber que o futebol não se resolve mais com uma equipe mediana e um craque, mas depende muito mais da consistência tática de uma equipe bem treinada, com jogadores que saibam ocupar espaços, tomar decisões, multiplicar as opções de jogadas, correr corretamente e construir e consolidar as oportunidades de marcar. O improviso ainda faz diferença, mas ele é cada vez mais raro.

Por isso eu digo e repito: para montar uma equipe que consiga colocar em prática a filosofia de jogo acima descrita, o Brasil conta sim com um elenco bastante qualificado. Todavia, para isso, é essencial, mais do que nunca, o maestro que saiba reger a batuta para uma orquestra bem ensaiada; o enxadrista que saiba posicionar bem as peças; o pensador que saiba analisar, explicar e motivar concomitantemente, porque ficar separando razão de emoção é uma ideia há muito superada. E Dunga, com seu jeito bronco, metido ora a chefe ranzinza, ora a paizão linha-dura, não tem o perfil e o conhecimento futebolístico necessários. Nem de perto!

Por isso, se a CBF quiser em algum momento deixar seus negócios obscuros (e um tanto quanto escusos) de lado e reacender a esperança no hexacampeonato, precisa, antes de qualquer coisa, fazer mudanças na comissão técnica. Mas mudar de verdade, não fazer mais-do-mesmo, num ciclo de sebastianismo sem fim. Obrigado por tudo, Dunga! Mas a esperança de ver a Amarelinha voltar a brilhar passa pela sua saída do comando da Seleção. E uma mudança de perfil urgente na casamata também.

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Nada está tão ruim…

Em um Monumental incompleto (sem a presença de Messi), a responsabilidade de carregar o peso da mitológica camisa 10 albiceleste ficou para os ombros de Kun Agüero, que chegou às Eliminatórias com toda a POMPA por ter anotado cinco tentos no último jogo que fez pelo City, antes da pausa no calendário em função da data FIFA.

E quando a noite não pinta bem, os espaços em branco na arquibancada denunciavam partes da diagonal vermelha que adorna o estádio do River Plate. Esse é o problema no vício de se jogar sempre em Buenos Aires. Uma hinchada acostumada a ver sua seleção, mais apaixonada por seus próprios clubes e que decidiu não comprar a ideia de “jogo empolgante” sem o melhor do mundo, contra o Equador e válido pela PRIMEIRA RODADA.

Foram 22 anos desde aquele traumático 5 a 0 para a Colômbia, em 1993. Foram 22 anos desde a última derrota em uma partida classificatória para a Copa do Mundo dentro do Estadio Antonio Vespuci Liberti, no bairro de N̶ú̶ñ̶e̶z̶ Belgrano.

Mas quando a noite não pinta bem…

Agüero durou escassos 24 minutos em campo. Saiu após sentir uma lesão muscular. Talvez fosse esse o sinal divino que faltava! Uma oportunidade que, enfim, chegou (no mínimo com um ano de atraso). Carlitos Tevez foi a campo, mas pouco fez que justificasse a tremenda histeria e clamor por sua titularidade. Ele não foi o Tévez da Juventus e tampouco o Tévez do Boca.

E a Argentina? Também não foi a Argentina de Messi e muito menos a de Diego, EL DIEZ original.

Porém, mais do que falar sobre a derrota argentina, vale destacar a vitória do Equador com uma de suas melhores seleções em anos, curiosamente e paradoxalmente comandada por um argento: Gustavo Quinteros (de excelente trabalho anterior no Emelec).

Os equatorianos seguraram o ímpeto e se controlaram até sentirem a debilidade alheia, principalmente, em Facundo Roncaglia e Emmanuel Más. As duas laterais marcavam nitidamente a trilha para o encontro épico com a História.

Dois gols em 60 segundos, um tremendo tapa na cara protagonizado por Erazo e Caicedo.

https://www.youtube.com/watch?v=GwU4Sc-wVk0

A Argentina não perdeu pela ausência de Messi, ou pela lesão de Agüero. Não saiu derrotada devido ao pouco interesse da torcida portenha.

A Argentina perdeu porque o Equador jogou muito mais. E às vezes, no futebol, simplesmente isso é o suficiente.

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Lição de Humildade

Por ~dibradoras

Milly Lacombe foi uma das mulheres pioneiras a conseguir mais espaço no jornalismo esportivo na TV. Em um meio esmagadoramente masculino, ela virou comentarista de jogos no PFC e passou a integrar as cadeiras do Arena SporTV, um programa bem prestigiado no meio. Lá, ela analisava jogadas, jogadores e o jogo em si. Ao lado de renomados jornalistas homens, como Armando Nogueira e Claudio Carsughi. E foi lá que Milly cometeu um “erro gravíssimo” – como ela própria descreve – que mudou sua trajetória.

Em 2006, ao vivo no Arena, ela mencionou que o goleiro Rogério Ceni teria forjado uma assinatura de um pré-contrato com o Arsenal para conseguir um aumento no São Paulo Futebol Clube. Na hora, Ceni ligou para o programa e pediu que Milly provasse o que havia dito, já avisando que levaria o caso para a Justiça.

O caso teve imensa repercussão – talvez maior ainda por Milly ser mulher – e hoje ela reconhece ter aprendido uma lição de humildade com o episódio.

“Eu, na verdade, peguei um papo de mesa de bar e coloquei como informação, eu absolutamente ignorei qualquer lei jornalística (…) Falar que ele forjou uma assinatura sem jamais poder provar isso é um erro gravíssimo. Ter errado em rede nacional de TV também foi uma lição de humildade”

Depois do episódio, Milly foi colocada “na geladeira” pelo SporTV. “TV é um meio que mexe tanto com vaidade que o castigo na TV é te tirar do ar. Quer dizer, você fica em casa e recebe salário, o que seria uma bênção em qualquer outra profissão, mas na TV é um castigo.”

Sobre os comentários, de certa forma arrogantes, de Rogério Ceni na hora de apontar o erro da jornalista ao vivo, Milly preferiu se abster. “ Eu acho até que ele foi bastante machista quando entrou no ar, mas eu sempre tenho dúvidas em criticar a reação dele porque o erro primeiro foi meu. E a partir daí, as leis de ataque definem as de defesa. Quem fez primeiro fui eu e eu não me sinto no direito de criticar porque o erro primeiro foi meu e foi grande.”

Quando voltou para as telinhas, Milly teve que cavar seu espaço de novo. Até que ela recebeu um convite irrecusável – e até histórico para a época – para comentar a Liga dos Campeões da Europa na Record.

“Foi difícil porque eu tive que voltar desmoralizada e tentar cavar meu espaço de novo. Quer dizer, já tinha sido difícil da primeira vez, aí eu volto e tenho que cavar de novo…e eu estava cavando e acho, de verdade, que eu conseguiria dar a volta ali, mas eu fui convidada pra ir pra Record. Era muito mais dinheiro, era uma rede aberta e era para comentar a Champions, era muito difícil recusar.”

Na Record, comentou a UCL em 2009 e, depois da saída do diretor que a havia a havia levado para lá, o canal acabou não renovando seu contrato.

Preconceito

Falando com as ~dibradoras, Milly também comentou sobre o preconceito contra mulheres no jornalismo esportivo e disse que a busca delas por espaço continua, porque o meio não evoluiu em nada nesse sentido nos últimos anos.

“Existe o preconceito direto e o pior deles que é o velado. É um meio muito machista. Para comentar futebol em uma mesa de bar, a primeira vez que você dá uma opinião alguém diz: Ih, ela tá falando a opinião do pai, do irmão ou do namorado. Aí você começa a argumentar e eles te levam a sério. É sempre um pouco mais difícil. (…) Na TV foi a mesma coisa, alguns deixavam claro que não me queriam lá e outros de forma velada. Mas, por outro lado, tem muito homem bacana na TV, que te levam a sério de cara, como o Milton Leite, o Noriega… pra cada um que dificulta, tem dez que facilitam. E a gente sabe que teremos que passar por isso. Tem aquele velho ditado que diz: ‘Tudo que um homem pode fazer, a mulher pode consertar’”.

Para Milly, a falta de espaço para as mulheres no jornalismo esportivo ainda é gritante.

“Não evoluiu nada. Eu acho que a Soninha foi uma pioneira e ela fez isso com muita categoria. Acho que a Marília Ruiz ainda faz isso com muita categoria. Mas também não evoluiu pra negros, você liga a TV e é o homem branco falando da rodada. É isso. E você vê caras novas, é o rostinho de um homem branco novo, o mercado não está aberto pra mulheres, negros, pra minorias. São sempre as mesmas pessoas que analisam futebol há muito tempo (…) Eu acho que mulher e homem, a gente vê o mundo de formas tão diferentes que acho que talvez o ideal fosse ter um de cada. A gente é mais subjetiva, a gente é mais emoção, homem tende a ser mais PVC, mais estatística. Talvez esse seja o futuro. E acho que tem isso de os meios de comunicação começarem a peitar a coisa. (…) “Enquanto a gente fica lutando pro preconceito diminuir, tem outros que ficam sedimentando-o – Belas da Torcida é um deles. A gente vai evoluir, não tem como parar. Mas, às vezes, essa evolução dá um tranco. E o Belas da Torcida é um tranco”, finalizou.

Diretamente de Gonçalves, Minas Gerais, Milly Lacombe falou isso e muito mais para as ~dibradoras. Ela nos contou sobre a  infância e a paixão pelo futebol, que começou com o pai, sobre a carreira como jornalista, sua participação como comentarista esportiva na televisão, entre outras coisas.

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