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Central Autônoma #75 Julio Lancellotti

O centro da cidade de São Paulo é um dos melhores termômetros para se sentir as carências e desigualdades sociais que vivemos. E no programa dessa semana entrevistamos uma das figuras que mais estende a mão a sem tetos, imigrantes, viciados, dentre outras pessoas em situação de vulnerabilidade.

Na conversa, Padre Júlio conta a rotina de abandono e repressão policial pelas ruas da cidade, suas colaborações a tais pessoas e a pouca sensibilidade do poder público, inclusive da atual prefeitura, que chegou a lançar programas de auxílio a alguns grupos que habitam a região.

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Que Comience la Función

Ao término da transmissão do podcast Trivela, por volta das 16h, me apressei em sair do estúdio da Central 3 em direção ao Butantã – mais precisamente na “Morada dos Pintos” – para acompanhar a estreia de La Celeste na atual edição das Eliminatórias Sul-Americanas.

Peguei o primeiro ônibus na avenida Rebouças que cruzasse a ponte Eusébio Matoso e após cruzar a catraca o meu “espertofone” começou a tocar aleatoriamente duas músicas de bandas uruguaias das quais sou fã: Ni Olvido Ni Perdón de Trotsky Vengarán e El Profeta de La Vela Puerca. Automaticamente, entrei no clima do jogo e parei no mercado para comprar uma garrafa de Norteña, para saboreá-la com meu velho depois da peleja.

Entretanto, fomos surpreendidos negativamente ao descobrir que o SporTV 3 transmitiria Bolívia x Uruguai apenas quando Portugal x Dinamarca acabasse, ou seja, perto dos acréscimos do 1º Tempo da partida realizada no mítico Hernando Siles. O canal esportivo da Globosat tem exclusividade na transmissão da referida competição entre seleções da Conmebol, mas desvaloriza o seu produto ao priorizar um duelo que também era veiculado pela concorrência, no caso, um dos canais da ESPN. Seria mais um gol da Alemanha? Depois não adianta reclamar caso a seleção brasileira seja “surpreendida” em La Paz ou Montevideo.

O jeito foi acompanhar a divertida transmissão dos amigos do Arquero Peligro, programa da UNI Radiodiretamente da capital uruguaia, enquanto todos os canais esportivos brasileiros ignoraram o primeiro gol marcado nessas Eliminatórias – ou World Cup Qualifying, como se lia numa das placas de publicidade na cancha do bairro Miraflores. Outro gol da Alemanha?

Em boa jogada de Carlos Sánchez, o camisa 5 encontrou Abel Hernández livre na área adversária. O cabeceio de La Joya foi desviado por Daniel Vaca, mas Martín Cáceres – que substituía o suspenso Maxi Pereira – aproveitou a cochilada dos defensores bolivianos e chutou sem chances para o goleiro local com apenas 9 minutos jogados. A resposta de La Verde veio logo em seguida, quando YASMANI DUK escapou da marcação do capitão Diego Godín e acertou o travessão de Fernando Muslera.

El Pato Sánchez criou mais uma chance de perigo, em cobrança de falta, fazendo com que Vaca mandasse a bola para escanteio. Alejandro Chumacero também forçou a defesa de Muslera para o córner em chute de fora da área. Os zagueiros uruguaios exigiram a ação do camisa 1 da Bolívia em dois cabeceios. Cristían Rodríguez sentiu o peso da idade – com 30 anos, é um dos jogadores mais experientes do Uruguai – e foi substituído aos 37 minutos, dando lugar ao estreante Camilo Mayada (dos 11 titulares, três debutavam nas Eliminatórias).

Aproximadamente aos 43 minutos da primeira etapa, os televisores brasileiros começaram a receber as primeiras imagens originárias da capital boliviana, sem acompanhar, no entanto, nenhuma jogada aguda até o final dos 2 minutos acrescidos pelo árbitro argentino Patrício Loustau.

No intervalo da partida, os amigos da Universidad de la República compartilharam pela frequência 89,1 FM a seguinte pérola musical.

Na etapa complementar, La Celeste jogou com inteligência, sabendo dosar o oxigênio, sempre uma questão quando os charruas sobem ao Altiplano. Por sinal, o Uruguai nunca havia vencido os bolivianos em La Paz por partidas oficiais e restavam 45 minutos para quebrar este tabu – na última visita, com Diego Forlán, Edinson Cavani e Luis Suárez em campo, derrota por 4 a 1 para os verdes.

Por outro lado, os bolivianos não aproveitaram o fator local e quando Godín cabeceou livre para a meta adiante da Curva Sur, balançando a rede, a vitória era iminente. Jair Torrico perdeu a cabeça e foi direto para o chuveiro em entrada violenta no Pelado Cáceres. Diego Rolán e Nicolás Lodeiro, que haviam entrado nos lugares de Hernández e Sánchez, respectivamente, controlaram bem a bola e seguraram o ímpeto dos locais. Boa estreia para a turma comandada pelo Maestro Tabárez que foi substituído pelo auxiliar Celso Otero e acompanhou tudo a partir de um camarote ao lado do Mono Pereira e Árevalo Ríos, que devem retornar na próxima terça-feira, quando recebem a Colômbia no Estadio Centenário.

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Futebol Urgente #89 Neymar Lesma Chip

O menino Neymar é um cai-cai? “Ora, veja meus lances aí!”

Está aqui mais um Urgente com Fernandito Toro! Na pauta, compre um prédio e ganha ingresso do Palmeiras, mais um capítulo da temporada BAD BOY de Messi, vaias na China, Gerd Muller e a memória, os freestyles do Manchester City…

Você sabe o que vai encontrar.

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Trivela #31 Blatter suspenso

O podcast Trivela trouxe na pauta o que de mais pesado acontece no futebol: o presidente da Fifa, quase o dono do esporte, está suspenso junto de Platini e Walcke. O escândalo da Fifa é tema obrigatório para Felipe Lobo, Xico Malta, Matias Pinto e o apresentador Leandro Iamin.

O podcast também debateu o começo das eliminatórias na América do Sul, com o Brasil na berlinda, e a crise que assola o São Paulo, com direito a agressão entre dirigentes e despedida do treinador Osório.

Clique abaixo e ouça, então, mais este podcast!

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Carceleros

Por Marcelo Izquierdo*

Llegó la banda de Devoto

y fueron a todos parar al hospital.

Por la avenida General Paz

los de Urquiza quisieron escapar

(cântico da hinchada do C.A. General Lamadrid dedicado aos rivais da A.S.D. Justo José Urquiza)

La Batalla de Caseros

A animosidade entre Lamadrid e Justo José de Urquiza não é de hoje. Sempre estiveram em lados opostos. Lamadrid era unitário e Urquiza, caudilho entrerriano, federal. No entanto, em 1852, ambos se uniram para lutar contra Juan Manuel de Rosas na Batalha de Caseros. De todos os modos, a relação entre os dois nunca foi das melhores. E Urquiza, em um momento de fúria, ameaçou fuzilar Lamadrid.

A Batalha de Caseros foi um marco fundacional da Argentina. Em 3 de fevereiro de 1852, o Exército da Confederação Argentina de Rosas, foi derrotado pelo Exército Grande, formado por forças brasileiras, uruguaias e das províncias de Corrientes e Entre Ríos. À frente do Exército Grande estava Urquiza, o poderoso governador entrerriano que havia se revoltado contra Rosas no ano anterior.

Batalla de Caseros

Entre os generais que o acompanhavam estava Lamadrid, seu antigo inimigo e efémero aliado. Lamadrid havia sido um grande amigo de Rosas, de quem inclusive era padrinho de seu filho mais velho, mas o havia combatido durante anos em seu caráter de líder unitário.

Lamadrid estava no campo de Caseros, nas proximidades de Buenos Aires, pronto para a batalha. Ao lado de Rosas lutavam cerca de 22 mil homens; com Urquiza outros 24 mil, entre eles 3.500 brasileiros e 1.5000 uruguaios. Neste bando, além do general tucumano, haviam outros dois referentes militares que anos mais tarde tornaram-se presidentes: Bartolomé Mitre e Domingo Faustino Sarmiento.

Urquiza distribuiu a cavalaria em seis divisões, uma das quais confiou a Lamadrid. O guerreiro já tinha sessenta anos, mas o seu ímpeto estava intacto. Em uma escaramuça prévia, as forças de Lamadrid ficaram longe do combate. Esta situação o deixou enfurecido. Segundo escreveu o general oriental César Díaz em suas memórias, Lamadrid lhe comentou no dia seguinte que “si hay alguna refriega, ya le he dicho al general en jefe que haga el favor de no darme ninguna colocación en que sea preciso esperar para pelear, porque si me obliga a permanecer a pie firme después de que se haya disparado el primer tiro o dado la primera carga, se expondrá a que yo dé en el ejército un ejemplo de insubordinación”

Porém, a batalha foi um fiasco para Lamadrid. Sua divisão foi destinada ao flanco direito. A historiadora Lily Sosa de Newton, em seu livro Lamadrid escreveu que o caudilho “se lanza a la carga con ímpetu tan infrenable que cuando (se) quiere acordar se encuentra a casi una legua y media del punto en que debiera actuar”. Lamadrid estava em posição de impedimento. “Cuando regresa la situación del ala izquierda rosista está ya definida y poco le resta a Lamadrid por hacer” na batalha. César Díaz pôs a culpa “al excesivo polvo que tenía oscurecida la atmósfera” ao trote dos cavalos e “la falta de prática del terreno”.

Urquiza estava fora de si por conta do comportamento do general tucumano. Lamadrid reconheceu seu fracasso em impedir o passo do inimigo. “Me he privado con la división de mi mando de tomar al bárbaro verdugo Juan Manuel de Rosas pues con este exclusivo objeto me había propuesto privarle su fuga por retaguardia de los Santos Lugares y presentarme de frente envolviendo toda su ala izquiera”.

O caudilho entrerriano, segundo referiu o doutor Delfín Huergo, seu ajudante em Caseros, explodiu de raiva ao ler a mensagem: “¡Me he de fusilar hasta a generales para que aprendan a obedecer!”. Lamadrid resmungava sua bronca. Foi sua última batalha e não pode entrar em combate. Sua espada estava quieta e sem manches de sangue. Mas ao entrar em Buenos Aires o calor popular foi o consolo que necessitava para o descanso definitivo do guerreiro.

Pastor Obligado, testemunha dos eventos, em seu livro Tradiciones argentinas. La gloria de Caseros. Desfile triunfal del Ejército Grande aliado en la ciudad de Buenos Aires, el 19 de febrero de 1852 escreveu que aquele dia “cerraban la marcha cinco mil hombres de caballería. A la cabeza, el viejo general Lamadrid, quien al desembocar en la Plaza de la Victoria fue desmontando en brazos de un pueblo delirante y llevado en andas hasta el pie del altar de la patria. El oficial de Belgrano se arrodilló besando las gradas de la Pirámide de Mayo, que por tan largos años no veía, revestida de banderas y flámulas, con los colores de la alianza. Al incorporarse se descubrió ante el pueblo que lo vitoreaba sin cesar; no podía hablar, pero se lo vio llorar”.

La misma pasión

Vos venís a Devoto sin las banderas.

Vamos para la villa descontrolados.

Todos los años vamos para la Cueva.

Vos venís a Devoto todo cagado.

Oh, en Caseros son vigilantes.

(outro cântico da hinchada do C.A. General Lamadrid dedicado aos rivais da A.S.D. Justo José Urquiza)

J.J. Urquiza é um clássico do Lamadrid. Ninguém recorda como começou a rivalidade, nem por quê. Mas, todos concordam com algo: foi por proximidade e problemas entre as torcidas. J.J. Urquiza tem sua sede em Caseros, aonde ambos os caudilhos lutaram juntos em 1852. No entanto, sua canchaLa Cueva fica em Loma Hermosa. Porém, no dia 27 de março de 1993 foi local em outro estádio que honra o ex-governador entrerriano: Ferrocarril Urquiza, em Villa Lynch. Pela trigésima e última rodada da Primera DJ.J. Urquiza não jogava por nada diante do Lamadrid. No entanto, Lamadrid jogava por tudo contra J.J. Urquiza.

JJ Urquiza

Poucos sabem o que é jogar a Primera D. Torcedores de Boca, River ou qualquer outro grande do futebol argentino falam da “paixão” como se fosse um patrimônio exclusivo. Compraram a paixão. Creem que ninguém mais sente o que eles não conseguem expressar com palavras. Não entendem que o sentimento de um torcedor do Boca ou River pela sua equipe é igual ao que professa um carcelero por seu clube. No futebol, não exista paixão A nem paixão B ou C. Muito menos, paixão classe D.

Em relação à paixão no futebol todos somos iguais, ainda que alguns se julguem mais iguais que os outros. É a discriminação da bola: crer que encher um estádio com 50 mil pessoas lhe dá o direito a “sentir” muito mais que aquelas centenas que a cada sábado acompanham o Lamadrid. O rebaixamento há igualado a muitos. Grandes ou pequenos. San Lorenzo, River, Racing e Independiente já sentiram esse gosto amargo. Lamadrid também. Várias vezes. Da B para a C, e da C para a D. Subindo e descendo, como um elevador. E o sentimento é o mesmo.

Contudo, na D existe algo distinto. Um jogo macabro, uma roleta russa. Ser rebaixado na D é desaparecer do mapa. Despedir-se, afundar-se. O nada. Nesse momento, os dois últimos colocados na tabela dos promedios, os piores do futebol argentino, eram condenados à desfiliação. Hoje este inferno afeta a um só, o último. Mas naquele torneio eram dois.

A pena é capital: não se joga durante um ano. Todo um ano. Doze meses. 365 dias, 8.760 horas, 525.600 minutos, 31.536.000 segundos sem ir à cancha. É distinta a paixão de um torcedor do Boca a um torcedor do Lamadrid? O que sentiria um torcedor do River se no próximo final de semana sua equipe deveria ganhar sim ou sim e esperar que outro rival, em outra cancha, não ganhe ou ao menos empate para ter o direito a uma final para evitar a desfiliação por um ano?

Lamadrid, naquele 27 de março de 1993, chegou a última rodada da Primera D na penúltima colocação da tabela de promedios, a um passo da desfiliação. Sportivo Barracas já estava condenado e Lamadrid devia ganhar ou ganhar para evitar acompanhar-lo. Entretanto, devia esperar que Atlas também não o fizesse. Se triunfasse, condenava o carcelero ao inferno do ano sabático. E o Atlas, humilde equipe de General Rodríguez, recebia em casa o modesto Centro Español, que não jogava para nada.

Como explicar a um torcedor do Boca uma agonia que jamais sentirá? Como explicar que havia que ver uma partida de futebol e com o rádio colado na orelha esperando notícias de outro jogo que não se acompanhava ao vivo e ainda carecia de todo interesse para a audiência da Radio Rivadavia? Havia que esperar o narrador da partida principal da Primera B perguntar por notícias sobre o Atlas, algo que ocorria cada… uma eternidade, quando lhe desse vontade.

Lamadrid fez o seu papel. Com um gol de Javier Carotti derrotou o J.J. Urquiza por 1 a 0. Não lhe sobrou nada. Os jogadores foram ao vestiário com a incerteza de não saber se no ano seguinte teriam ou não um clube aonde jogariam. Um deles estava no banco de reservas. Com apenas dezesseis anos, ainda não havia estreado na equipe principal. Seu nome, Flavio Fernández, futuro ídolo do clube.

Flavio Fernandez

Em um momento da tarde, os torcedores do Lamadrid souberam pela rádio que o Atlas e Centro Español empatavam em 1 a 1. Não sabiam quem havia marcado primeiro. Talvez fosse melhor. Após o apito final em Villa Lynch, nada estava decidido. Um punhado de torcedores, poucas dezenas, estavam junto ao alambrado aguardando notícias desde General Rodríguez. Se salvou o Lama? Jogaremos o desempate? Vamos para a…? Além da D, não há mais nada.

Quinze minutos depois do final do jogo, a Radio Rivadavia fez um boletim geral por todas as canchas das divisões de acesso. Todas. Primeiro, a B Nacional, logo em seguida Primera B, mais tarde Primera C. Finalmente, Primera D. Haviam poucos rádios na arquibancada. Dois ou três, no máximo. Todos se acotovelavam próximo de cada aparelho. Não se escutava nada. Era um silêncio demolidor. O recorrido por mais de quarenta estádios de quatro categorias diferentes era interminável. Havia inclusive anúncios. algum comentário, uma pergunta, uma vã filosofia que aumentava a ferida. “¡Aceite bueno y barato, Forest 444! “¡Pilas Everyday, una pila de vida!”

Cada jornalista, com vinte poucos anos e sem experiência, que entrava no ar, sabia que esse era “seu” momento. Sua namorada estaria escutando, seus pais, seus amigos, todo o bairro. E não permitiria que esses segundos lhe escapassem tão rápido. Deviam pensar em um comentário inteligente, uma figura poética, um resumo claro e certeiro. Fora dos aparelhos, a poucos metros do dial, com o olhar fixo no nada, os torcedores do Lamadrid estavam adiante de um pelotão de fuzilamento.

-Vamos a Villegas… – anunciava o narrador.

Preparar…

-En Lugano…

Apontar…

-En General Rodríguez…

Fogo!

-Final. Atlas y Centro Español empataron 1 a 1. Néstor Gómez para el local y Ricardo De Vito para la visita.

Não foi um grito de campeão. Nem um alarido. Não se grita assim quando uma equipe é campeã. Tampouco quando se salva do rebaixamento. É um aperto de punho que dói, um suplício que não termina, como o condenado à morte que lhe suspendem a execução para a próxima semana. Lamadrid havia ganhado o direito de jogar a final mais importante de sua história contra o Atlas. O direito de não desaparecer por um ano interminável e deixar de ser. Experimentar a síndrome da cancha vazia. O zagueiro do Centro Español, Ricardo De Vito, era o herói anônimo. Durante anos De Vito foi um homem familiar para mim. Sentia um agradecimento especial para esse futebolista amador que havia contribuído para salvar o Lamadrid do abismo. Pensava que lhe devia uma homenagem.

Encontrei a De Vito depois de procurá-lo pelo seu clube, pelas páginas web do ascenso e até na lista telefônica. Haviam três Ricardo De Vito na província de Buenos Aires. O último deles era o seu pai. Foi difícil explicar a um senhor de uns 80 anos que procurava seu filho para agradecer-lhe por um gol que havia marcado vinte anos atrás. Mas o homem era de outra época, uma época em que haviam códigos que se deviam respeitar e me deu o número do celular do seu filho.

“¿Qué?” De Vito não entendia nada. Me pediu para chamar-lhe mais tarde. Embora mais tarde tampouco compreendia que alguém lhe perguntava por um gol que havia convertido décadas atrás no futebol amador. Como explicar-lhe a importância que havia sido esse gol para o Lamadrid? Custou-lhe que confiasse que eu não tiraria informações para um futuro sequestro virtual. E mais, que cresse no motivo da chamada. Ao final… afroxou.

No entanto, não lembrava muito dessa partida. Quase nada. Não estava seguro. “Creo que empezó ganando Atlas y lo empaté de cabeza”. Fanático pelo Vélez, De Vito jogou pelas categorias de base do clube de Liniers, mas rompeu os ligamentos cruzados aos 16 anos. Nada foi igual. Chegou a jogar três partidas pelos aspirantes, mas não teve o contrato renovado próximo de profissionalizar-se. Assim, apareceu no Centro Español, o clube modesto do bairro aonde passou sua infância. Jogou durante cinco temporadas ali. Com essa camiseta – segundo tinha tatuado na minha memória – fez o gol contra o Atlas que permitiu ao Lamadrid disputar uma final pela permanência.

De Vito, categoria 1967, hoje é comerciante de vinhos. Tem cinco filhos e um deles joga nas categorias de base do Vélez. Mas como podia ser que ele não se recordar-se desse gol? Queria narrar-lo, descrever-lo, gritar-lo como não pude fazê-lo vinte anos atrás.

Segui em busca do milagre. Mas acabei me deparando com a realidade nua e crua. A lenda que havia alimentado durante duas décadas não existia. Era apenas isso, uma lenda. Atlas não havia jogado essa partida crucial contra o Centro Español e sim com o Muñiz. De Vito havia marcado um gol nesse dia, porém em sua visita ao San Martín de Buzarco. As estatísticas não mentiam. Foi um duro golpe. Quem era então o verdadeiro De Vito?

Seu nome: Juan Carlos Tobar, meio-campista. Chegou ao Muñiz em 1990 e estreou entre na equipe principal dois anos depois. Ali sofreu três desfiliações. Também jogou no Ferrocarril Urquiza. No total, foram 190 partidas e 8 gols convertidos. Se aposentou em 2010. Hoje joga na Liga de Escobar para o América FC. Tobar foi o nosso Ricardo De Vito. Agradeço aos dois por alimentar a lenda. Obrigado, De Vito, por estes vinte anos. Obrigado, Tobar, por aquele gol que – ninguém duvida em Villa Devoto – foi o mais importante da sua carreira.

*gentilmente cedido pela Aguilar; traduzido por Matias Pinto

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Neste sábado (10), Lamadrid e J.J. Urquiza se enfrentam em Villa Devoto, pela 34ª rodada da Primera C, ambos ameaçados pelo rebaixamento

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Folha Seca #83 Elcio Cornelsen

O Folha Seca #83 conversou com Elcio Cornelsen, um dos organizadores do livro Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer; no papo, o professor da UFMG falou sobre a relação do futebol com outras artes, da pesquisa em torno do tema no Brasil e sobre os romances que têm o jogo como destaque na narrativa.

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Judão #02 Sophia Reis

Sophia Reis visitou o podcast do Judão! Atriz e apresentadora, Sophia acumula um monte de experiências na TV, no cinema e no teatro. Aqui, uma conversa sobre a viagem que ela vai fazer de São Paulo ao Alaska de CARRO, sobre ser atriz, sobre ser mulher, sobre o universo, sobre a vida, e sobre tudo mais. 🙂

 

E agora planeja um projeto ainda mais incrível: vai partir em uma jornada pela América, de São Paulo ao Alasca de carro — uma Defender 110 — em busca de novas culturas, novas experiências, novas culturas… Quem sabe uma nova vida? 😀

Ela é a convidada dessa semana do PoOOoOooODCAST!, em que conversamos sobre tudo o que esse projeto da viagem, batizado de Caudalosa América, sobre ser atriz, sobre ser mulher, sobre o universo, sobre a vida, e sobre tudo mais. 🙂

Baixe, assine o Feed, iTunes, Android… Ouça! E compartilhe. 🙂

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Textos Caribenhos

Por Victor Faria

I

Um novo, inteligente e estranho personagem incorporou-se, meses trás, à nossa instituição. Apresentou-se num dia qualquer procedente de um conhecido país, localizado ao norte da extravagância.

Um homem intranscedente, desprevenido, que aciona o mais difícil e pitoresco mosaico de planos de jogo. A dificuldade do idioma passeava em sua voz e a fazia despencar pelos despenhadeiros mais profundos da gramática.

Sem filiação tática definida, teria fácil confundi-lo com um anarquista da bola. Mesmo sem credenciais diplomáticas, tinha a dignidade consumada de um ministro dos esportes fora de moda.

Iniciou-se no tema de sua predileção falando suavemente, cercadas por uma corrente de lirismo exagerado e pela intimidade no gracejo de primeiros nomes. Logo, quando em seu interior se desatou a tempestade oratória, falou de sua peregrinação pelo desordenado mundo do futebol, de suas campanhas nacionais e continentais, dos procedimentos de jogo brotados de uma frondosa experiência de andarilho. Seu conhecimento e atrevimento incorrigível podiam fazer estremecer de inveja a muitos de nossos conselheiros.

E agora, definitivamente incorporado ao nosso trabalho diário, deixa seu par de canetas aos cuidados do eterno assistente membro de nossa comissão técnica, talvez sem imaginar que a criatura em questão não será capaz de desenvolver o básico de suas convicções.

E será essa, a partir de hoje, nossa cotidiana dor de cabeça. Começamos a apresentar, com ele, uma maneira de jogar além de nossas pretensões. Controle de posse de bola, conhecimento sobre o time adversário e suas possíveis e identificadas fraquezas. Será preciso manter a competitividade e eliminar adjetivação de três ou quatro classificados à Copa Libertadores.

Em poucas palavras, este é, ou era, o membro mais útil de nossa agremiação. Encarregado de erradicar tudo que no gramado não se vale. E assim, nos campos do futebol, deixar perdurada a obra impublicável de todos os boleiros espontâneos.

Hoje, amigos leitores, já podem ser encontrados os motivos originais desta obra já defasada ser naturalmente uma anacrônica.

II

Não é verdade que você, frequentemente, sente-se como um protagonista de uma trama de ficção, quando a emotiva carga de todo um enredo ocupa integralmente sua capacidade de controlar-se?

Você, como qualquer homem normal, deve ter sentido, mesmo em condição anônima, de estar sendo traído ou vigiado. É o momento em que o ambiente deixa de ser um núcleo simples e se converte num universo de descontrolados sentimentos. Cada indivíduo se portará de uma maneira, de acordo com sua estrutura temperamental. Alguém, sem dúvida desmaiará. Outros acompanharão, em silêncio suspenso, o fio da trama. Cada um a saber como se portar.

Você, homem de boa fé, não pode permitir que um membro social de seu clube ponha tudo a perder, que tome liberdades com seus sentimentos e com o futuro da instituição. Mas, como homem exemplar, você edificará dentro de sua conjectura racional uma maneira de não se abalar, de se controlar a fim de buscar uma melhor solução, em prol de todos, de um bem maior. Sua dignidade decente ficará, assim, intacta e satisfeita. E eu, em nome dos homens de bem, certificaria o fato como correto.

O porém, é que nem todos pensam como você. O sr. Ataíde Gil Guerrero, por exemplo, um honrado funcionário do time, demonstrou pela manhã que, quando sua emoção se despenha sobre uma situação insuportável, converte-se num autêntico safanão. Este cidadão sentia que suas veias subiam os animais do inconformismo durante uma reunião sobre o futuro nome escolhido como novo treinador. Este enérgico cavalheiro, ao ver frustradas suas esperanças, precipitou-se contra o presidente e proferiu contra ele um soco levando-o ao chão.

Falta dizer que o impetuoso Ataíde Gil Guerrero perdeu seu cargo no clube, mas não resta dúvida de que teve o sono tranquilo dos homens que estão em paz com sua consciência.

III

Reto, empinado e magnífico caiu Carlos Miguel Aidar sob o impávido sopro da violência. A força de suas ideias, de suas convicções ideológicas desencadeara o estopim da força bruta e alheia.

Desde o instante em que sucumbia à queda começou a sentir em seu ventre as famigeradas raízes do ódio, da perseguição e da vingança. Carlos Miguel Aidar saíra do hotel já imaginando a tormenta chegada de perguntas que o aguardavam. Preferiu uma nota oficial.

No mesmo lugar onde edificara suas barricadas de justiça, onde suas palavras defenderam uma mudança de gestão, democracia, aqui, desmoronou seu corpo abatido e só. Um soco feito um apelo profético.

Em suas pálpebras começaram a crescer as violetas do espanto, porém em seu interior há uma outra violeta de chumbo que busca, em sombras perpétuas, o caminho de sua realização.

Tem a voz desatada e transfigurado o semblante. Um ar frio, gelado pelo sopro contínuo de quem caminha sozinho, golpeia com punhos metálicos seu rosto inquebrantável. Deverá agora formar uma nova diretoria, organizar uma nova legião, trazer ao clube homens que clamam por justiça, que busquem paz, concórdia e compreensão abrangente da situação, para que não se transfigure a imagem sua à da instituição.

Seu nome tem agora um sabor amargo e perpétuo bem como sua ações.

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Thunder #75 Martoni, Ary e Esteban

Você gosta de rugby? Joga rugby? Está de olho no Mundial de rugby? Quer entender sobre rugby? Veio ao lugar certo.

Thunderbird recebeu Antônio Martoni e Ary Aguiar, ambos dos canais ESPN, para falar da essência, da cultura e das histórias deste esporte cheio de moral e fascínios. A dupla falou da Copa do Mundo e do rugby no Brasil, do passado e do presente, e marcou um, digamos assim, try cibernético.

Esteban Tavares, já um habitual membro do Thunder Rádio Show, também deu as caras para fazer som ao vivo, falar de sua agenda de shows e seu trabalho autoral.

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Dibradoras #18 Milly Lacombe

As Dibradoras entrevistaram a jornalista Milly Lacombe, e o papo foi muito franco e bacana.

A relação com o pai, a carreira no jornalismo, o mercado, o erro que mudou seus caminhos, e mais amor, apostas e prazeres da profissão. Uma entrevista com tudo isso e, de quebra, boas risadas.

Júlia, Nina e Renata também falaram dos resultados do brasileiro feminino e das novidades em vídeo, mais um campo onde as Dibras atuarão!

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Conexão Sudaca #68 Diegolan

Batemos um papo com Diegolan Dibujos, o camisa 10 do papel e caneta, que falou sobre o colorido e o folclore das hinchadas, a sua visão sobre as torcidas brasileiras, a volta dos visitantes x violência no futebol, o momento do All Boys e a relação do clube com o bairro de Floresta, o rock n roll e muito mais!

Ainda sobrou tempo para os quadros Detrás del ArcoBoletim Bolivariano, nos quais Léo Lepri e Gabriel Brito dialogaram com nosso apresentador Matias Pinto sobre os últimos acontecimentos nas arquibancadas e calles do continente.

No final, ouvimos o lançamento do vídeo dos parceiros do Tr3sdeCoraZón e você curte a nova música de trabalho chamada Mal de Amor.

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