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Folha Seca #79 Lusa Iê Iê Iê

O Folha Seca #79 falou com Cristiano Fukuyama, diretor do filme Ataque Iê Iê Iê – O Quinteto da Lusa que Rodou o Mundo, história da famosa linha de frente da Portuguesa nos anos 1960.

O programa também falou de Andrew Jennings, Eder Jofre e Garrincha.

Assista ao filme Ataque Iê Iê Iê:

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Diário de um Magro

Por Victor Faria

Eu

Eu estava preocupado com meu carro, a minha mala e com os meus pertences. Quando o pesado portão de ferro se abriu, um sujeito pediu meus documentos e a chave do carro. Apontou a recepção. O portão se fechou, deixando o mundo lá fora.

– Tire a roupa!

– Como, senhora?

– Fica de cueca e sobe ali.

Uma enfermeira, talvez. Eu já conhecia todo o lugar com o gerente de futebol daqui.

– Sobe ali.

Num negócio que parecia tudo, menos uma balança. Era, era uma balança.

– Agora fica parado ali, que eu vou checar sua altura.

– Esses fios todos são para quê?

– Eletro. Deita ali, Walter.

Como ela já sabia meu nome?

Devo confessar que eu estava com a meia de ontem e não tinha tomado banho naquele dia. Havia chegado de longa viagem. Suado. A noite anterior…

Minha meia estava fedendo. Pra valer. Ela pediu que eu tirasse a meia também. Não sei se para o exame geral ou pelo exame geral particular ao qual ela já havia se submetido.

– É o seguinte, a minha mala… O refrigerante, sabe?

– Não fala nada agora.

Meu Deus, onde é que estou?

– Agora você vai soprar aqui. Puxa o ar, segura e solta com toda a força aqui neste tubo. Isso… Isso. Assim! Agora solta!

Soltei, fiquei tonto, disfarcei.

– Agora pode ir para o quarto.

– Claro.

Era um fim de tarde de uma quarta-feira de janeiro. Entrei nas acomodações do Caju e estava tudo lá, bonitinho. Mas, o refrigerante, eu nunca mais veria.

Bomba

O que mais tem me impressionado aqui, neste primeiro dia, é como todos os eles, os funcionários, os médicos, são eficientes e simpáticos.

Juro que logo nas primeiras horas eu estava achando meio demais, meio viadagem. Comecei achar que era falso. Cortesia demais pro meu gosto. Depois eu vi que era assim mesmo.

Você pode estar onde estiver que te acham. Se você tem uma entrevista ou consulta com alguém, eles te localizam.

Tem uma máquina aqui, parecida com uma bomba, aquela bomba de comer. Você entra nela, ela se fecha, acendem umas luzes lá dentro. Sabe pra quê? Bronzear. Pode?

Pois eu estava lá dentro, numa boa, pegando uma cor e ouço lá de fora.

– Walter, psiquiatra daqui a meia hora.

Grito:

– Como é que você sabe que sou eu que estou aqui?

Ela já tinha ido. Relaxei e me queimei.

Apelido

Acho que é o apelido que salva qualquer carreira. A primeira coisa que os jogadores devem providenciar, antes mesmo dos apetrechos esportivos, é o apelido. E tem que ser apelido novo, não vale aumentativo ou diminutivo.

Quer coisa mais gostosa do que ser chamado pela massa de Quico ou Tufão?

Rodrigueanos

Os grandes personagens do mestre Nelson Rodrigues são gordos e boleiros. Os melhores, os mais espertos. E debochados.

Curinga

Estou pensando em convidar o Anderson Lopes para me fazer uma visita.

Envelhescência

Se você é um jogador de futebol entre os 26 até os 35 anos, preste bem atenção ao que se segue. Se você for mais novo, preste também, porque um dia vai chegar lá. E, se já passou, confira.

Sempre me disseram que a vida do homem se dividia em quatro partes: infância, adolescência, maturidade e velhice. Quase correto. Esqueceram de nos dizer que existe a “envelhescência” que nada mais é que uma preparação para entrar na aposentadoria, assim como a adolescência é uma preparação para a maturidade.

E, se você está em plena envelhescência, já notou como ela é parecida com a adolescência? Coloque os óculos e veja como esse nosso estágio é maravilhoso:

  • Assim como os adolescentes, os envelhescentes também gostam de meninas de vinte anos.
  • Os adolescentes mudam seu modo de jogo. Nós, envelhescentes, também. Mudamos o nosso ritmo de jogo, nossa cadência. Os adolescentes querem jogar mais rápido; os envelhescentes querem jogar mais lentamente.
  • Os adolescentes vivem a sonhar com o futuro; os envelhescentes vivem a falar do passado. Bons tempos.
  • Os adolescentes não tem ideia do que vai acontecer com eles daqui a vinte anos. Os envelhescentes até evitam pensar nisso.
  • Ninguém entende ambos. Irritadiços, se enervam com pouco. Acham que já sabem de tudo e não querem palpites em suas jogadas.
  • Quase todos os adolescentes acabam sentando no banco de reservas ou mesmo junto à torcida nas arquibancadas. Os envelhescenes, também, a contragosto, idem.
  • Ambos bebem escondido

Tardinha

Caminhar muito no campo à tardinha, se não pra jogar bola, é infelicidade.

Poluções

As pessoas aqui costumam, como nos internatos, ter poluções noturnas.

Mas, em vez de sonharem com atrizes e modelos, o objeto dos desejos oníricos, em geral, é o misto de frutos do mar, risoto com molho de ossobuco, as empadinhas de frango, rosbife com salada de batata, rabada.

Tem gente que tem orgasmo durante o sono ao sonhar com copos de Coca-Cola vermelhos, do guaraná Jesus (melhor que o Antártica), da Soda bem gelada, das variações de maçã, laranja e uva.

Meu querido e paciente leitor: me desculpe as tentações acima, mas não resisti. Já estou aqui há sete dias. Não custa sonhar.

Coca

Um jornalista senta-se na minha mesa para o jantar. Dois minutos depois, como é normal aqui, a gente já estava íntimo.

Ele:

– Não sei o que estou fazendo aqui. Aqui não tem nem sexo, nem maconha, nem Coca.

Olhei bem pra ele. Respondi.

– Olha, Coca eu não tenho, mas agora o resto…

Ele não entendeu a minha mensagem. Ou será que entendeu e me achou ainda um pouco inchado?

Atração

Toda noite, entre o jantar e a ceia (ceia?), tem uma atração no restaurante que vira bar.

E não é que é maravilhoso? Fica todo mundo bêbado. Descobri aqui que o que embriaga não é o álcool. São o bar e as companhias. O clima.

Juro que, depois de quatro refrigerantes diet, eu estava numa boa. Aliás, todo mundo estava numa boa.

Curinga II

O Anderson Lopes topou me visitar. Deve vir pra cá nos próximos dias.

Novo

No quarto dia aqui, comecei a perceber mudanças na minha cabeça. Estava mudando e para melhor. Estava começando a gostar de mim. As meninas me chamaram de gato.

Coisa que não ouvia há muito tempo.

Não vinha gostando de mim.

Estou descobrindo o velho (novo) Walter que tinha dentro de mim.

Alguém disse que não é?

Bem

Dele se pode dizer que está bem de vida, mas não necessariamente bem na vida.

Jardim

– Centro de treinamento?

– Campo de concentração?

– Colégio interno?

Nada disso. Apenas:

– Um adorável Jardim-de-Infância.

Livro

Estou aqui escrevendo este livro, que é o tipo de livro que eu gostaria de receber ao entrar aqui.

Bronze

Entro na máquina de bronzear. A sensação é boa. Momento para pensar em nada. Coisa de rico, penso. Deve ter burguês em casa com essa máquina.

Nada de ir pra praia, se besuntar todo, crianças jogando areia no seu corpo, o sol que some, o vento frio…

Rico sabe das coisas.

O Anderson me liga do celular. Oito e meia da noite.

– Tô levando a muamba. Como eu escondo?

– No carro, não revistam.

– Certeza?

– Absoluta!

– Olha…

Revista

Desde que eu entrei aqui, que me falavam da revista das malas. Depois de alguns exames, finalmente me reencontrei com as minhas malas e o meu computador.

Entramos no meu dormitório, eu a funcionária da recepção, para a revista. Entramos e eu logo contei as malas e as sacolas.

– Está tudo certo, disse eu.

– Mas eu ainda não fiz a revista.

– Mas eu estou lhe dizendo. Está tudo aqui, tudo certo. Muito obrigado.

– Acho que o senhor não está me entendendo. Eu é que tenho que revistar suas malas.

– Como?

– É que tem pessoas que trazem coisas proibidas pra cá.

– Você está se referindo a drogas?

– Outro tipo de drogas.

– Não acredito… Fique à vontade.

Mas ela não parecia nenhuma generala repressora. Para falar a verdade, era uma gracinha que estava ali olhando as minhas cuecas e demais intimidades.

Achou cinco latas de refrigerante que foram devidamente confiscadas.

Cabeça

A grande maioria dos jogadores que estão aqui querem cuidar do corpo. Mas o mais incrível é que a cabeça é que acaba sendo mais cuidada.

Muda tudo lá dentro. Aliás, quem está a fim de cuidar do corpo, supõe-se que já tenha uma boa cabeça.

Eu, por exemplo, comecei a perceber que estava fazendo a barba todos os dias. Era desleixado com ela, não com a barba, mas com a cabeça. Comecei a gostar de mim novamente.

A calma volta. Nada de pressa.

Sem pressa. Pra que pressa, gente? Calma…

E amarrar a chuteira devagarzinho, puxando cordinha por cordinha? Caprichar no laço. Depois dar uma olhadinha pra ele e sacar que ele também precisa de um trato.

Vou dar uma lavadinha nele quando voltar.

O Jô Soares é ótimo. É ótimo ir pra cama com ele. Mas é melhor ainda ir pra cama sem ele. Antes dele.

Afinal, gordo é o que não falta por aqui. E você sabe: gordo não ri, gordo gargalha. E como gargalha gostoso.

Mentira

Tomar água entre as refeições ajuda a emagrecer.

Culpa

– Culpa?

Eu estava diante da psicóloga pela primeira vez.

– Culpa.

– Culpa de quê?

– Trabalho pouco e ganho muito.

– E você sente culpa por causa disso?

– Imensa.

– Há quanto tempo você trabalha?

– Desde os catorze.

– Quantas horas você trabalha por dia?

– Duas. Quando tem jogo. Tem dia que eu não faço nada. Fico com culpa de me divertir, sabe? Fico vendo as pessoas trabalharem o dia inteiro. Este país de merda. Todo mundo ganha pouco. E eu jogando bola, indo pra praia… Um dia cheguei a conversar isso com o Chico Buarque. Que não deve “trabalhar” nem duas horas por dia. Me disse que sentia culpa por muitos anos. Depois relaxou.

– Isso deve acontecer com os artistas, com todos os jogadores.

– Eu seu disso.

– Talvez uma boa terapia…

– Não sei, acho que vou morrer com essa culpa.

Curinga IV

Anderson já está na portaria. Vou até lá.

– E então?

– Debaixo do banco do carona.

– E onde está o carro?

– O manobrista foi estacionar.

Eis que entra o Juca, o manobrista. Na mão direita as chaves. Na esquerda, dentro de uma sacola, ela. A garrafa de refrigerante!

Não diz nada. Entrega para a recepcionista, que pega a garrafa e some com ela. Eu e o Anderson ficamos olhando a garrafa entrar numa gaveta, uma chave a trancar.

Eu e Anderson nos olhamos. Tristes. Nunca havíamos vivido tal situação.

Despedida

Quase todo dia chega um e outro vai embora. E a despedida chega a ser comovente.

Há trocas de contatos, endereços e números de telefone. Lágrimas rolam.

É incrível. São pessoas que nunca se viram. Passaram de uma semana a quinze dias juntos.

Parece que a amizade vai ser para o resto da vida. Com as jogadas ensaiadas ali.

Diet

No lanche da tarde, um dia serviam um quarto de tomate, no outro um palito de cenoura ou uma gelatina diet.

Lema

O que nós oferecemos é somente ensinar a jogar. Treinar dia a dia é um trabalho só seu.

Governo

Seria interessante que o governo criasse locais populares, com a infra daqui. Não para os governantes, mas para toda a população.

Todo brasileiro deveria ter essa experiência que estamos tendo aqui.

Fica uma sugestão: em vez de mandar o jovem servir o exército, manda pra um lugar assim. Mesmo porque não temos que fazer guerra com ninguém.

A não ser contra o nosso corpo e a nossa cabeça. Para encontrar, finalmente, a paz interior.

Graça

A conclusão é antiga, mas aqui eu constatei in loco:

– Todos os gordos são engraçados.

Nunca ri tanto em minha vida.

Finalmente

Não é apenas por vaidade que todos os jogadores estão aqui. Tenho quase certeza que, ao virem para cá, estão, em primeiro lugar, preocupados com o jogo.

Mas descobrem que é com a cabeça completamente mudada que sairão daqui.

O jogo é apenas a prática.

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Refugees Welcome

Por Fred Elesbão*

Pelo menos no futebol alemão, os torcedores vêem reagido à crise dos refugiados que atinge a Europa da melhor maneira possível. Ao invés do medo, da xenofobia ou do pânico propagado diariamente pela mídia tradicional européia, as torcidas de quase todos os clubes da Bundelisga demostram que esse não é o caminho correto. Na última rodada varias manifestações de solidariedade foram vistas nas arquibancadas, e os torcedores mais ativos pressionaram os seus respectivos clubes para também tomarem uma posição sobre o assunto.

Refugees Welcome

O Borussia Dortmund através do inciativa torcedora angekommen in Dortmund (Chegando a Dortmund) convidou 220 refugidos para assistirem gratuitamente um jogo no legendário Westfalenstadion.

Ainda no norte da Alemanha, o Hannover 96 convidou dois refugiados para jogarem pelo time de juniores na divisão regional, alem de doar camisas e equipamentos para a abertura de uma escolinha de futebol para os recém chegados no país.

Já em Gelsenkirchen, o Schalke 04 convidou 100 refugiados para o seu primeiro jogo na temporada e os torcedores criaram a iniciativa “caixa do amigo”, onde roupas e brinquedos podem ser doados aos refugiados. O clube também produziu o vídeo Steht auf (Levante-se)  com o ídolo Gerald Asamoah sobre a importância da Solidariedade com os refugiados e da Luta contra o Racismo nas arquibancadas e, principalmente, na sociedade.

Enquanto que na Baviera, o Bayern de Munique anunciou que doará 1 milhão de euros em ajuda humanitária e desenvolverá um acampamento de treinamento especial para os refugiados que estão chegando à Alemanha.

Desta forma, os torcedores criaram um efeito cascata que se espalhou por vários clubes alemães. O Werder Bremen lançou o projeto “Continue com a bola” para ajudar os refugiados na região, além de projetos similares lançados por Hamburgo e Borussia Mönchengladbach.

Em quase todas as arquibancadas, torcedores levantaram faixas e bandeiras com as palavras Refugees Welcome (Refugiados, sejam bem-vindos) . Nas próximas rodadas varias coreografias e mosaicos em solidariedade com os refugidos já estão sendo preparados por torcedores de vários clubes.

Apesar dos horrores dessa crise humanitária causada pela própria intervenção imperialista em vários países do Oriente Médio, essas belas reações dos torcedores provam que uma outra Europa é possível; Uma Europa da Humanidade e da Solidadriedade, ao invés da velha Europa da Xenofobia, das fronteiras fechadas e do medo.

Refugiados, sejam bem-vindos!!!

*economista, torcedor do Hannover 96 e membro da Football Supporters Europe.

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Thunder #71 Benja e Maraucci

Dupla roqueira e gente fina no estúdio da Central 3. Em noite molhada na capital paulista, Benjamin Back, da FOX Sports e do Estádio 97, e Osvaldo Maraucci, treinador e comentarista de tênis nos canais ESPN, se juntaram a Leandro Iamin e nosso mago Luiz Thunderbird para falar de bastante coisa. Bastante mesmo!

As carreiras, a mídia, a música, o tênis, o futebol, o US Open, as grávidas em Miami, os Ramones, reminiscências e boas lembranças e provocações e milongas e piadas ocultas indiretas e duvidosas. Tá tudo aqui, e você ouve clicando acima!

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Portão 17

No próximo dia 21, completam-se 4 anos do acidente que mudou a vida do meu pai. Era apenas uma cirurgia de revascularização, mas uma complicação durante a operação gerou uma série de micro coágulos no cérebro, que afetaram a coordenação motora do seu Zeca.

Foram dois meses de internação no Incor e uma nova etapa para a família Pinto. Neste período, acompanhamos muitas partidas de futebol, seja pelo rádio ou televisão, passatempo que ajudava a amenizar a situação. Após a alta médica, meu velho foi apresentado a uma nova companheira: a cadeira de rodas.

E fomos aprendendo com ele como é difícil o cotidiano de um cadeirante em São Paulo, metrópole que carece de acessibilidade em diversos espaços, sejam eles públicos ou particulares.

Pouco a pouco meu pai foi superando obstáculos e conhecendo a sua cidade adotiva a partir de uma nova perspectiva. E no último sábado nos preparamos para visitar o setor destinado aos Portadores de Necessidades Especiais do Estádio do Morumbi, localizado no portão 17, para assistir ao jogo entre São Paulo e Internacional, nossos times de coração – duelo que inclusive fez com que não nos falássemos por mais de uma semana em meados de agosto de 2006.

Seu Pinto

Coincidentemente, foi o mesmo portão em que atravessamos quando meu pai me levou pela primeira vez ao Estádio Cícero Pompeu de Toledo, na fatídica final da Copa Libertadores da América de 1994.

Prevendo os percalços que enfrentaríamos, entrei em contato com o programa Sócio Torcedor, do qual eu sou membro, por chat, e-mail e telefone para garantir o nosso acesso, mas fui surpreendido negativamente pelo atendimento do clube, motivo do meu desabafo na última edição do Futebol Urgente.

Não desanimamos e fomos à cancha. E o único aborrecimento foi com a calçada esburacada da avenida Giovani Gronchi. Enquanto esperávamos para comprar o meu ingresso de acompanhante – o público PNE tem entrada gratuita, além de um lanche de cortesia – fomos abordados por um diretor do SPFC que nos acompanhou até um camarote, no anel inferior à esquerda das cabines de rádio. Com o perdão do trocadilho, meu velho “estava mais feliz do que pinto no lixo” e confessava para todos são-paulinos que o abordavam gentilmente da sua predileção pelo adversário daquela noite.

Como chegamos com certa antecedência, ele foi relembrando de momentos históricos que presenciou das arquibancadas: como a inauguração do Beira-Rio, viajando com três amigos mais de 500km até Porto Alegre; o gol iluminado de Don Elías Figueroa; a tabela de cabeça entre Escurinho e Falcão, resultando no gol deste; ou mesmo a referida partida de volta diante do Vélez Sarzfield, quando retornamos às 5h da manhã para casa, após a derrota nos pênaltis, em meio a uma multidão desconsolada.

A vitória por 2 a 0 para os donos da casa foi a 14ª vez em que testemunhei coloradores e tricolores in loco – grande parte delas acompanhado do seu Zeca, sempre torcendo pelo empate que (in)felizmente não veio.

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O Goleiro e o Poeta

Por Marcelo Mendez

O futebol não precisa de nada para ser algo grandioso por uma simples razão: ele é como a vida.

Não é justo. Nem sempre ganha o melhor. Não há nele nada de previsível. Tem milhares de situações e possibilidades e é disparado a maior fábrica de épicos, mitos e poetas das mais variadas e belas estirpes. Porque só ele, o futebol, é capaz de dar a devida imortalidade aos poetas. Em uma quarta-feira dessas que tinha tudo para ser comum, por exemplo, se fez História.

Naquele dia um senhor muito distinto trajando casaco, boina de feltro e munido de um guarda-chuva caminhava pela noite fria de Santiago. Tinha ele algumas ideias em mente, então saiu de sua casa, apelidada de La Chascona, para pensar sobre tudo que o cercava. Andou, andou e sem saber exatamente o porquê, foi parar na comuna vizinha de Las Condes, onde uma aglomeração de pessoas caminhava para ver um jogo de futebol. Uma delas se espantou ao vê-lo:

“Neruda! Aquele não é o Pablo Neruda?”

E ouviu a seguinte resposta:

“Você está louco ou muito bêbado! Vamos entrar que a partida já vai começar…”

Intrigado, o poeta decidiu entrar para sentir o clima da cancha. A Universidad Católica, equipe local, recebia o São Paulo pelas oitavas-de-final da Copa Sul-Americana. Nada disso o interessava muito, mas ele sem compreender o impulso que sentia decidiu entrar para ver a peleja.

A hinchada da casa vibrava, fazia festa, e o poeta pensou de imediato que uma porção de gols viria pela frente, que talvez, quem sabe, aquilo pudesse dar a ele uma emoção diferente, uma nova forma de ver o encanto. Os cruzados começaram com tudo.

Seus atacantes, bastante avançados, arrematavam ao gol do São Paulo com a fúria dos apaixonados. Era a catarse que se anunciava plenamente, linda, cheia de furor. Mas então surge aos olhos de Neruda um sujeito, um goleiro, um pretenso algoz que se colocou pronto para impedir que essa expectativa se realizasse. Ouviu de outro, a seu lado na arquibancada, que o nome dele era… Rogério Ceni.

Com a destreza de Picasso com seu pincel em mãos pronto para pintar Guernica, observava o jogo. Voava lindamente pelas bolas todas com a leveza de um Coltrane tocando I Love Supreme. Era divino ver os movimentos daquele camisa 01. Inebriado, o poeta sacou do bolso papel e lápis e escreveu um verso ali mesmo na arquibancada do Estadio San Carlos de Apoquindo:

“Meu amor, ao fechar esta porta noturna
peço-te, amor, uma viagem por um escuro recinto:  fecha os teus sonhos, entra com teu céu nos meus olhos,  estende-te no meu sangue como num largo rio.”

Como se tivesse ouvido o verso recém-criado por Pablo Neruda, Rogério Ceni seguiu fazendo defesas épicas, dantescas ao longo do jogo. Desafiava a lógica do jogo de futebol.

Se fazia herói em uma posição na qual, geralmente, estão todos os vilões, aqueles que são preparados para evitar a maior alegria do esporte; o Gol. Mas, o goleiro do São Paulo fazia isso com a elegância de um Marcel Proust em vias de escrever o seu Em Busca do Tempo Perdido.

Teve inclusive a elegância e o charme de não ser infalível, tomou por lá uns gols, mas quem há de se lembrar? De que importa isso? Rogério conseguiu mudar a dinâmica da partida. Ao invés dele, vilões foram os que marcaram três vezes contra a sua meta. Pensando assim, nosso poeta escreveu:

“Adeus, adeus, cruel claridade que foi caindo  no saco de cada dia do passado,  adeus a cada raio de relógio ou laranja,
salve, oh, sombra, intermitente companheira!”

O goleiro por muitas vezes tem apenas isso para acompanhá-lo; a penumbra. Durante muito tempo, onde ele pisava nem grama nascia. Era visto então como um sujeito que estava ali apenas para constar, para pular e ousar impedir a alegria dos torcedores, para manchar de borrão o berro impresso das palavras dos apaixonados cronistas ludopédicos. Mas, não naquela noite em Santiago…

Defendendo bolas seguidas, de forma lúdica e divina, Rogério Ceni fez o poeta entender que ali, debaixo daquelas três traves, um homem deixava de ser comum para se tornar uma lenda. Passava da condição de jogador de futebol, para um imortal. Com as cores que Fellini usou para filmar Rimini, sua cidade natal, em Amarcord, o goleiro marcava sua imagem para sempre nos corações dos amantes do futebol. Os olhos de Neruda se enchiam de água e então ele foi novamente ao seu papel e mandou:

“Não sei quem vive ou morre, quem repousa ou desperta, mas é o teu coração que distribui no meu peito os dons da aurora.”

A aurora se deu por conta daquele goleiro. Um homem cheio de todas as idiossincrasias que tornam grandiosa a existência humana. Rogério que erra, que acerta, que fica triste, que fica alegre, que ri, que chora, ficou de lado. Após o apita final, um semi deus permanecia no gramado. Então, o poeta batizou o que tinha escrito com o seguinte título:

“Somos o Casamento da Noite com o Sangue”.

Sangue puro, pleno, furioso e onírico. Com toda a honestidade e paixão de quem o derrama, de quem não se faz de rogado em jorrá-lo pelo que ama, como sempre faz Rogério Ceni. Naquela noite em Santiago, todas as odes possíveis e imagináveis foram poucas para aquilo que o goleiro acabara de fazer.

Aos pés da Cordilheira, Pablo Neruda louvou Rogério Ceni…

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Conexão Sudaca #64 Gui Miranda

Recebemos novamente o amigo Gui Miranda que toca o Expulsos de Campo e está organizando a 1ª Fiesta Argentina do ABC para falar sobre fútbol  e Punk Rock.

No mais, Gabri e Léo apresentam os quadros Boletim Bolivariano Detrás del Arco….

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Xadrez Verbal #15 Fronteiras

A crise fronteiriça entre os nossos vizinhos Colômbia e Venezuela só piora e é o tema principal do programa de hoje. Falamos novamente da escalada militar no Extremo Oriente, focando na China e suas demonstrações de poderio por ocasião dos 70 anos do fim Segunda Guerra Mundial.

Discutimos a situação na Guatemala, o exemplo islandês na atual crise de refugiados,crianças indianas, condenação da Odebrecht, torcidas alemãs e muito mais.

Você pode assinar o Feed via RSS do Xadrez Verbal ou ouvir o podcast através do iTunes.

 

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Central Autônoma #70 – Marcelo Castañeda

O país atravessa uma crise econômica e política que não aparenta data pra terminar. Sobre esse quadro confuso, conversamos com Marcelo Castañeda, sociólogo do Rio de Janeiro, que, para além de analisar a fraqueza de Dilma, entregue às idas e vindas do PMDB, defendeu uma ruptura definitiva com o lulismo, do ponto de vista dos movimentos populares e combativos que se colocam à sua esquerda.

 

Nessa esteira, lembra de como ainda vivemos a brecha aberta pelas jornadas de junho de 2013 e a incapacidade, ao menos por ora, de manter sua chama, o que permite à direita e aos conservadores capitalizarem. Aliás, Castañeda afirma ser exatamente esse o momento que sepultou o PT como instrumento de verdadeiras transformações sociais. É hora de acelerar a construção do novo.

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Thats Not A Knife

De acordo com o dicionário Oxford os trolls são criaturas da mitológica nórdica que lembram pessoas feias, podendo variar de tamanho e humor, e adoram enganar os humanos. Com a popularização da internet, no começo dos anos 90, o termo foi ressignificado para apelidar aqueles usuários que irritavam os demais através de mensagens, algo que foi multiplicado com outros recursos audiovisuais através das ditas redes sociais.

Após o sorteio dos grupos da Liga Europa, torcedores do Fenerbahçe começaram a postar fotos armados de armas brancas para ameaçar os seus pares do Celtic, seus adversários do grupo A ao lado de Ajax e Molde. A relação entre turcos e britânicos, no geral, não é das melhores desde o começo do século passado, no contexto da 1ª Guerra Mundial e o subsequente conflito no Chipre, nos quais o Império Britânico e o Império Turco-Otomano ficaram em lados opostos.

Fener

Mesmo após a assinatura do Tratado de Garantia, em 1960, que garantiu a independência da ilha – que seria invadida em 1974 por tropas turcas após um Golpe de Estado encabeçado por oficiais de origem grega, dividindo o Chipre de norte a sul – a animosidade dos turcos em relação aos britânicos é notória.

Um dos casos mais emblemáticos ocorreu na prévia da semifinal da Copa da UEFA, em 2000, quando o Leeds United visitou o Galatasaray. Dois torcedores da equipe de Yorkshire foram esfaqueados até a morte na Praça Taksim, em Istambul, por “desrespeitarem a bandeira turca”. Ali Umit Demir, um soldado desempregado, e mais três outros homens foram condenados pelo duplo homicídio. Na partida de volta, a federação europeia baniu a torcida do Cim-Bom, que se classificou à final com o placar global de 4 a 2. Na decisão, disputada em Copenhagen, outro clube inglês pela frente, no caso o Arsenal, e mais distúrbios foram observados, desta vez na capital dinamarquesa.

Voltando para 2015, outro fator de descontentamento entre o auriazuis e alviverdes é a amizade dos escoceses com torcedores do AEK, de Atenas, visto que os gregos são os grandes inimigos históricos dos turcos. Por este motivo, um torcedor do Estrela Vermelha, de Belgrado, foi esfaqueado por torcedores do Gala, novamente antes de uma partida… de BASQUETE. A rivalidade com os sérvios é explicada pela aliança com o Olympiacos, outro time ateniense. Na ocasião circulou pela rede mundial de computadores uma imagem na qual os ultrAslam se vangloriavam do crime e apontavam futuras vítimas, entre eles ultras gregos e aliados.

Who Is Next (ultrAslam - Galatasaray)

Já em relação à provocação atual dos torcedores do Fener a resposta dos Bhoys foi uma demonstração típica do humor britânico. Munidos de utensílios domésticos ou comidas, os torcedores do Celtic postaram selfies com os rostos cobertos por um cachecol, imitando o gesto dos turcos, acompanhada da hashtag #ThatsNotAKnife, sendo acompanhados inclusive por fanáticos do Sarı Kanaryalar indignados com os seus companheiros de arquibancada.

Celtic

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Futebol Urgente #84

Sai o meião do Ronald McDonald, entra a camisa laranja terrão com calção chamuscado.

Sai o torcedor cadeirante do estádio. Sai a camisa do torcedor. Tira selfie com a bola na mão.

E Pato dá bolo para Osorio, e a Reserva que chama o Maracanã de nosso, ou deles, ou delas, sei lá.

Maus uma bombaça de Fernando Toro, aqui na cara.

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Trivela #26

O podcast Trivela da semana falou com Gustavo Hofman sobre a janela de transferências na Europa.

A janela teve, por exemplo, os maiores gastos da história da Premier League (mais de 1 bilhão de euros), e Hofman debateu com Ubiratan, Lobo, Iamin e Paulo Jr as características e grandes histórias desta janela.

O Vasco quase rebaixado e as arbitragens brasileiras também foram motivo de debate neste podcast que você ouve clicando aqui.

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