O Som das Torcidas #140 Hamburger SV

Die Rothosen!

Enfim o relógio do Volksparkstadion zerou e os dinossauros da Bundesliga foram rebaixados! Fred Elesbão nos guia pelo principal porto da Alemanha para apresentar uma torcida orgulhosa, mas que precisará de muita paciência na próxima temporada.

Conheça também as rivalidades e ídolos do campeão europeu de 1983, além dos diversos coletivos ultras da Nordkurve, que inclusive recuperaram o extinto FC Falke, um dos clubes que deram origem ao HSV.

 

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Fronteiras Invisíveis do Futebol #46 Trégua de Natal

Mais uma edição especial para você ouvir durante as celebrações de final de ano. O tema é a trégua de Natal de 1914. Não sabe do que se trata? Não conhece o clipe de Paul McCartney? Vamos contar o que foi e como, mais uma vez, o esporte ajuda a explicar a sociedade e a História.

Falando em História, se era uma trégua, era uma pausa no que? Na Primeira Guerra Mundial, um dos maiores conflitos da humanidade. Vamos explicar as principais origens e desdobramentos da guerra e por qual motivo tivemos uma trégua apenas em 1914. Então, prepare a comilança, reúna a família, encha os copos e dê play no seu podcast de História preferido!

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The Sound Of Silence

Apesar do bom começo de temporada para o Hannover 96 na Bundesliga, nem tudo são flores perante a torcida que declarou uma greve de silêncio dentro e fora do Niedersachsenstadion.

A medida radical é um protesto à tentativa do presidente, o milionário Martin Kind, de comprar o clube quebrando assim a tradicional regra dos 50% + 1 do futebol alemão, criada em 1999 e que protege os torcedores alemães de possíveis ofertas de aquisição por grandes investidores internacionais. Os Clubes são obrigados a manter a maioria das suas ações nas mãos dos sócios, evitando assim o modelo inglês, no qual qualquer mega empresário com bilhões em caixa pode adquirir instituições centenárias para brincar de cartola.

No entanto, toda regra tem suas brechas. Se um determinado investidor permanecer no clube por mais de 20 anos como patrocinador, este pode adquirir o restante das ações do clube, vide o Bayer 04 Leverkusen ou VfL Wolfsburg, que pertencem respectivamente a Bayer e Wolkswagen.

Kind, que assumiu a presidência em 1997, se encontra justamente nesta brecha, podendo assim adquirir o restantes das ações do clube devido às duas décadas no cargo. O único empecilho para essa aquisição é a Jahreshauptversammlung (a assembleia geral dos sócios), órgão máximo nas instâncias internas do clube, que (em teoria) deveria aprovar tal decisão.

Na última assembleia, em abril desde ano, Martin Kind e a direção do clube já não tinham a maioria absoluta para aprovação da venda, coisa que forçou o empresário a ignorar a decisão dos sócios gerando um grande descontentamento entre os torcedores. Resultado do impasse: uma greve de silêncio em todos os jogos, de local ou visitante, dos Roten.

Os ultras junto com mais de 90 fanclubs da Curva Norte assinaram uma carta aberta questionando a falta de democracia e o desrespeito com os sócios do clube. Perante todos os jogos a torcida permanecerá calada até que a democracia seja respeitada.

A batalha pelo Hannover 96 ainda não terminou, mas a equipe em campo já vem sentido a falta de apoio da arquibancada. Mas como em toda greve, vitoriosa ou não, a luta continua.

O modelo do futebol alemão com ingressos baratos e grandes festas nas curvas só é possível com democracia dentro dos clubes. Do contrário cada vez mais empresas – como a Red Bull – serão representadas na Bundelisga ao invés de comunidades locais, representando a morte do futebol alemão como conhecemos.

Um clube de futebol não precisa de um dono, mas sim de um presidente eleito democraticamente. Se o Hannover 96 perder essa batalha, toda a Alemanha perderá junto com ele. Enjoy the silence, Herr Kind.

*economista, professor, membro da Football Supporters Europe e sócio do Hannover 96 desde 2012

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Criatividade Alemã

Estereótipos nunca são verdadeiros: tratam-se de simplificações que fazemos para vencer nossa incapacidade de lidar com figuras complexas e cheias de características conflitantes como as que encontramos no mundo real. Assim, apesar de trazerem traços verdadeiros e marcantes de seus retratados, os estereótipos nos impedem de ver várias qualidades interessantíssimas do estereotipado.

No Brasil (e em grande parte do mundo, imagino) os alemães são vistos como sisudos, durões, extremamene racionais, super-planejados e pragmaticamente pragmáticos. Com uma única linha de raciocínio, o estereótipo alemão vê os danos causados por suas ações como efeitos colaterais que serão mais do que recompensados por seus benefícios, abrindo o caminho para que ele alcance seu objetivo de longo prazo. Se permitindo agir assim, sem ficar com pena dos sacrifícios que tem que fazer, o alemão chega onde deseja e é capaz de construir coisas impensáveis para os bagunçados, confusos e amorosos latinos.

Eu via a Bundesliga (ou “o futebol alemão”) como um desses feitos, até começar a conhecer histórias que mostram o oposto deste lado “quadrado” do alemão: um lado capaz de ponderar divsersas visões sem aceitar as barreiras e pressupostos de uma só delas (normalmente a do dinheiro) e muitas vezes encontra soluções que satisfaçam a diversos grupos (e não a só um deles – você já sabe qual). O canal da liga no youtube, por exemplo: ao invés de tentar tirar qualquer vídeo com imagens de sua propriedade do ar, como fazem La Liga e Premier League, a Bundesliga não viu a demanda online pelos seus lances e gols como ameaça aos valores pagos pelas TVs, mas sim como uma oportunidade de deixar milhares de fãs mundo a fora mais contentes e ao mesmo tempo tornar a si própria e a seus times mais conhecidos, aumentando os valores de suas marcas. Com este pensamento a própria liga produz e disponibiliza gratuitamente vídeos sobre as rodadas, jogadores, histórias e gols de seu campeonato, em um inglês devagar e fácil de entender.

Outro exemplo veio na Champions League 2012, quando Uli Hoeness, então presidente do Bayern de Munique e que posteriormente seria condenado por evasão fiscal, colocou os ingressos da semi-final a venda com um preço baixo. Ele declarou que podia cobrar o triplo do que cobrou pelos ingressos de arquibancada que provavelmente o estádio estaria lotado do mesmo jeito, mas que decidiu não fazê-lo “porque futebol não é só dinheiro” e que a quantia que ganharia “é deixada de lado em 5 minutos numa negociação de jogadores ou salários, enquanto que para o torcedor faz muita diferença”. Desta maneira, Hoeness mostou como ser racional não significa necessariamente cobrar o máximo o tempo todo, nem maximizar o resultado financeiro do clube, mas sim se questionar e pesar prós e contras das soluções propostas para as questões levantadas, sem adotar um único parâmetro para a decisão.

Por fim, nesta semana recebo a notícia de que o Borussia Dortmund (clube que já conta com uma política de preços mais razoável e se recusa a colocar cadeiras na arquibancada onde fica a Muralha Amarela) procura dois investidores de longo prazo interessados em adquirir 5% de suas ações. A idéia é aumentar em 50% seu orçamento salarial e se tornar competitivo, deixando de ser considerado as categorias de base do Bayern de Munique. Soa estranho que um clube venda parte de si, mas considerando que as opções são adotar práticas predatórias com seus torcedores, ser vendido por completo para um excêntrico milionário russo / árabe ou simplesmente aceitar a situação e abrir mão de ser competitivo, talvez seja o melhor caminho, ou pelo menos um a ser considerado antes de adotar o mesmo que o resto do mundo.

Hoje, por incrível que pareça, eu não queria que o Brasil adotasse o estilo de jogo ou o planejamento alemão, mas sim sua mente aberta.

PS: a história financeira (e sua ligação com a esportiva) do Borussia é riquíssima: com as premiações daquele time de Matthias Sammer e o capital levantado com o lançamento de ações o time investiu em diversos negócios (agência de viagem, fornecedora de material esportivo, etc), reconstruiu seu estádio e montou um esquadrão. O que parecia ser o início de uma hegemonia se mostrou um problema insolucionável quando as coisas – dentro e fora de campo – começaram a dar errado. O clube chegou à beira da falência e teve de enfrentar uma assembléia com seus credores na qual caso estes não aceitassem a renegociação da dívida o clube seria considerado falido e passaria por um processo de extinção. De lá pra cá o clube se re-ergueu e aparentemente não desistiu de fazer frente ao Bayern de Munique, aventurando-se no mundo das finanças novamente. Para quem quiser ler um delicioso texto com todos os desmembramentos dessa história e sobre o significado do futebol para a cidade de Dortmund pode procurar o texto de Uli Hesse na edição de número 2 da Blizzard.

PPS: Outro caso interessante envolvendo finanças e futebol desta semana foi o financiamento coletivo ao SD Eibar. O pequeno clube espanhol havia conquistado o acesso à primeira divisão na temporada passada, mas ainda não se sabia se ele a jogaria, uma vez que não tinha o capital social mínimo exigido pela Liga (apesar de não ter endividamento, o Eibar precisava de um capital social mínimo). O caminho encontrado foi o financiamento coletivo através da internet, que terminou por arrecadar mais do que os EU$ 1,7 milhões necessários com adesões de 12.500 novos associados de 48 países diferentes. Talvez mais importante do que a conquista da vaga para a 1a divisão seja o exemplo do Eibar ao se deparar com um problema maior do que ele próprio e causado por uma regra sem sentido: achar uma solução sem se vender nem abdicar daquilo a que tem direito.

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Duas guerras mundiais e uma Copa do Mundo

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Em véspera de Copa, o “Som das Torcidas” passou a ser semanal até o final do torneio. O programa vai trazer uma serie especial sobre os cantos de torcida das seleções que irão participar da mais importante competição do planeta. Participo deste projeto ao lado do indefectível Leandro Iamin e “el professor” Matias Pinto, um legítimo especialista em cultura sul-americana e profundo conhecedor das hinchadas sudacas. Não por coincidência, o primeiro programa foi sobre os cantos uruguaios da celeste do coração do nosso gaúcho doble chapa*. Ouça o programa aqui

A segunda edição tratou da torcida do English Team com todas as peculiaridades destes excêntricos insulares, loucamente apaixonados por sua seleção. Ouça clicando aqui a edição #38 referente à Inglaterra.

Apesar dos ingleses terem inventado o esporte, possuírem a mais velha federação e a mais antiga seleção, o time dos três leões tem um currículo pra lá de medíocre. Diante disso restou aos torcedores utilizar um trunfo fora das quatro linhas: As suas vitórias bélicas diante dos rivais. Vale lembrar que a ilha só fora invadida duas vezes na história e há muito tempo atrás. A primeira foi no longínquo ano de 43 DC, pelos romanos (batizando-a de Britannia) e a segunda pelos normandos na batalha de Hastings, em 1066, liderada por Guilherme, o Conquistador. Desde então, os ingleses puderam estufar o peito e falar que nunca mais foram invadidos! E olha que não faltou oportunidade, como por exemplo, a tentativa da invencível Armada espanhola e as Blitz de Adolf.

Sabemos que os ingleses possuem um humor bem peculiar, o qual divide o apreço das pessoas de todo mundo. Há quem ame e há quem não ache a menor graça. No entanto, todos concordam que o british sense of humour é uma característica marcante deste povo e que desempenhou um importante papel no psicológico coletivo diante das tragédias vividas. O remédio foi sempre rir de si mesmo e das suas desgraças. Voltando ao futebol, enquanto a tradicional rivalidade futebolística da Inglaterra é com a Escócia e da Alemanha é com a Holanda, a ardente animosidade entre ingleses e alemães aumentou significativamente depois da Copa de 66, temperada pelos dois conflitos mundiais que deixaram enorme sequela entre ambos os povos.

Dentro de campo, a Mannschaft humilha a rival se levarmos em conta os números: Tri campeã do mundo, 4 finais disputadas e 4 semifinais, na Euro foram três taças e três finais. Por outro lado o English team venceu “apenas” uma polêmica Copa do Mundo, em casa, no ano de 1966 e um mísero terceiro lugar na Euro de 68. Com pouquíssimos argumentos futebolísticos para achincalhar os poderosos arquirrivais, os torcedores ingleses tomaram emprestadas conquistas fora das quatro linhas. Pegaram as vitórias nas duas grandes guerras e colocaram junto da única Copa do Mundo conquistada diante da própria Alemanha na final de Wembley (4 x 2).

Resultado disso foi o famigerado canto criado pelos politicamente incorretos english fans: One World Cup and two World Wars!

A música foi idealizada com base na melodia de Camptown Races, (música e letra de Stephen Foster de 1850), ouça uma versão de Johnny Cash clicando aqui

Há igualmente uma outra versão, com a mesma melodia, tão carinhosa quanto a primeira : “My grandad shot your grandad”, (Meu avô matou o seu avô), fazendo alusão a geração passada que lutou na guerra. Várias fontes citam o final da década de 60 como sendo a época do surgimento desta exultante canção.

Don’t mention the war

Apesar da tiração de sarro, é famoso na terra da Rainha o tabu que o inglês sempre tem de conversar sobre a Segunda Guerra com um alemão. Seja por educação ou pudor, o inglês sempre se incomodou com este assunto diante do ex-inimigo. Don’t mention the war sempre fora um importante recado para os desavisados. A expressão foi até tema de brincadeira no seriado Fwalty Towers do ex-Monty Python John Cleese. Assista um trecho do seriado clicando aqui

Curiosidades

A canção já gerou até motivo de preocupação por parte do governo britânico, antes da Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, o Foreign and Commonwealth Office fez um apelo aos torcedores ingleses para que não cantassem a música em território alemão. Jogadores ingleses como David Beckham, Wayne Rooney e Frank Lampard participaram de uma campanha pedindo aos torcedores que respeitassem os anfitriões. Obviamente o apelo não fora cumprido. Depois de alguns goles da boa cerveja do rival, os ingleses esqueceram por completo as solicitações e provocavam os chucrutes pelas praças das sedes daquela Copa.

Já durante o Mundial de 2010, a operadora de celular sul-africana MTN promoveu um comercial televisivo brincando com a música. No vídeo, um menino sai do quarto do hotel ao lado de seu pai cantando faceiramente a canção recém ensinada pelo progenitor, quando o elevador chega no andar, a porta abre e ambos se deparam com o elevador cheio de gigantes germânicos. Assista o comercial aqui

Futebol nas trincheiras

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Contudo, a histórica rivalidade teve um momento singular e foi o futebol o grande protagonista. Foi durante a Primeira Guerra Mundial, um cessar-fogo não oficial foi anunciado no dia de Natal de 1914, quando o exército britânico e as tropas alemãs abandonaram suas trincheiras e participaram de uma pelada, envolvendo centenas de soldados ao longo de muitos quilômetros de front. O evento ficou conhecido como The Christmas truce.

http://www.youtube.com/watch?v=oODjeoRbAp8

Não havia regras claras mas só a vontade de passar um natal em paz . jogo1914

Foto original de soldados ingleses e alemães em 1914 antes da famosa pelada

*Matias Pinto vem de família gaúcha da cidade de Santana do Livramento, um autêntico gaúcho da fronteira, por isso o doble chapa e o apreço pelo país vizinho.

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