O Som das Torcidas #142 Seven Nation Army

A obra-prima do duo The White Stripes mostrou que ainda tem força nas arenas russas, ao ser escolhida pela FIFA como música de entrada das seleções durante as 64 partidas da Copa do Mundo.

Após uma inesperada vitória do Club Brugge diante do Milan, em pleno San Siro, em outubro de 2003, os torcedores belgas comemoravam nas ruas milanesas quando começaram a corear o poderoso riff composto por Jack White. Desde então, passou a ser tocada sempre que os blauw-zwart anotam gols no Jan Breydel Stadium.

Numa dessas oportunidades, o clube de Flandres recebeu a AS Roma e saiu na frente, contudo os romanistas viraram e os tifosi passaram a cantarolar “po po po po”. Alguns meses depois, a Itália tornaria-se tetracampeã mundial e durante celebrações no Circo Massimo surgiria o canto “Siamo i campioni del mundo” que se espalhou para além das Sete Nações derrotadas pela Azzurra.

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The Sound Of Silence

Apesar do bom começo de temporada para o Hannover 96 na Bundesliga, nem tudo são flores perante a torcida que declarou uma greve de silêncio dentro e fora do Niedersachsenstadion.

A medida radical é um protesto à tentativa do presidente, o milionário Martin Kind, de comprar o clube quebrando assim a tradicional regra dos 50% + 1 do futebol alemão, criada em 1999 e que protege os torcedores alemães de possíveis ofertas de aquisição por grandes investidores internacionais. Os Clubes são obrigados a manter a maioria das suas ações nas mãos dos sócios, evitando assim o modelo inglês, no qual qualquer mega empresário com bilhões em caixa pode adquirir instituições centenárias para brincar de cartola.

No entanto, toda regra tem suas brechas. Se um determinado investidor permanecer no clube por mais de 20 anos como patrocinador, este pode adquirir o restante das ações do clube, vide o Bayer 04 Leverkusen ou VfL Wolfsburg, que pertencem respectivamente a Bayer e Wolkswagen.

Kind, que assumiu a presidência em 1997, se encontra justamente nesta brecha, podendo assim adquirir o restantes das ações do clube devido às duas décadas no cargo. O único empecilho para essa aquisição é a Jahreshauptversammlung (a assembleia geral dos sócios), órgão máximo nas instâncias internas do clube, que (em teoria) deveria aprovar tal decisão.

Na última assembleia, em abril desde ano, Martin Kind e a direção do clube já não tinham a maioria absoluta para aprovação da venda, coisa que forçou o empresário a ignorar a decisão dos sócios gerando um grande descontentamento entre os torcedores. Resultado do impasse: uma greve de silêncio em todos os jogos, de local ou visitante, dos Roten.

Os ultras junto com mais de 90 fanclubs da Curva Norte assinaram uma carta aberta questionando a falta de democracia e o desrespeito com os sócios do clube. Perante todos os jogos a torcida permanecerá calada até que a democracia seja respeitada.

A batalha pelo Hannover 96 ainda não terminou, mas a equipe em campo já vem sentido a falta de apoio da arquibancada. Mas como em toda greve, vitoriosa ou não, a luta continua.

O modelo do futebol alemão com ingressos baratos e grandes festas nas curvas só é possível com democracia dentro dos clubes. Do contrário cada vez mais empresas – como a Red Bull – serão representadas na Bundelisga ao invés de comunidades locais, representando a morte do futebol alemão como conhecemos.

Um clube de futebol não precisa de um dono, mas sim de um presidente eleito democraticamente. Se o Hannover 96 perder essa batalha, toda a Alemanha perderá junto com ele. Enjoy the silence, Herr Kind.

*economista, professor, membro da Football Supporters Europe e sócio do Hannover 96 desde 2012

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