Xadrez Verbal #285 Mediação Turca

Atualizamos vocês com os principais acontecimentos da terceira semana da invasão russa à Ucrânia, partindo das negociações na Turquia e trazendo análises e possíveis cenários, com destaque para a questão dos laboratórios de pesquisa biológica e química.

Também demos uma volta pela bacia do Pacífico, com eleições presidenciais sul-coreanas e a posse do novo presidente chileno.

No mais, tivemos o retorno do comendador Atila Iamarino, com um boletim pandêmico recheado!

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ZAL #02 Economia, fascismo e eleições

ZAL #02: “Não tem austeridade grátis: o custo social do neoliberalismo e o ressurgimento do fascismo”

Bolsonaro e sua tropa de apoiadores fanáticos se constituem como uma organização neofascista? Como se organiza a nova direita brasileira? O que os planos de austeridade econômica têm a ver com isso? Para debater todas essas questões e indicar alguns livros que estão sendo lançado pelas editoras independentes, o segundo programa da Zona Autônoma Literária convidou uma bancada de autores, editores e pesquisadores de peso, em gravação logo após o primeiro turno das eleições presidenciais.

São eles: Henrique Carneiro, professor de história da USP que está assinando o prefácio do livro Como Esmagar o Fascismo, de Leon Trotsky, que será lançado este mês pela Autonomia LiteráriaCamila Rocha, mestre e doutorando em Ciência Política pela USP, membro do Grupo de Trabalho Derechas Contemporáneas: dictaduras y democracias pela CLACSO – escreveu capítulos nas coletâneas Direita Volver, da Editora Perseu Abramo, e Ódio como Política: a reinvenção das direitas no Brasil que acaba de ser lançado pela Editora Boitempo; e Hugo Albuquerque, mestre em direito constitucional pela PUC-SP, advogado ativista e editor dos livros E os Fracos Sofrem o que Devem?, escrito por Yanis Varoufakis, e Economia para Poucos, organizado por economistas e pesquisadores para debater os impactos da austeridade no Brasil, ambos lançados pela Autonomia Literária.

As leituras do programa são exatamente dos livros já citados – o prefácio de Como Esmagar o Fascismo, em texto de Henrique Carneiro, e o início do capítulo O boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou militância?, de Camila Rocha, no livro Ódio como Política.

Apresentação da mesa e leituras: início até 12min00
Debate: a partir de 12min

Tem também, como de costume, cupom de desconto para compra de livros e o quadro que trás a voz da poesia das ruas. O ZAL debate política, economia, cultura e temas urgentes do nosso tempo, sempre sob mediação dos últimos lançamentos de uma rede de selos parceiros. E mais: senso crítico sobre o mercado editorial e as novidades do mundo dos livros no Brasil e no mundo. Uma produção de Paulo Junior, Cauê Ameni, Daniel Corral e Guilherme Ziggy.

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Amigos mudam

 

 

Há quem goste. Confesso que já fui até meio viciado nesse negócio chamado nostalgia, mas nãos essas de colecionar e acumular coisa velha, ou antiga – como preferem chamar os apegados. Meu museu era só de memórias mesmo. Ainda sofro um pouco disso. Minha Candeias que o diga. Não há um mero dia que não me lembre do odor de sargaço e das ruas sem asfalto. Chega dói.

Matava essa miserável chamada saudade, que só serve morta, com os velhos amigos de bairro e escola. Mas na minha memória toda a rapaziada ainda era a mesma. Magros, de roupas largas, tênis coloridos e nenhuma carta chegando em nossos nomes nas caixas de correios. Mas a realidade é mais inconveniente do que qualquer doce lembrança. Ao olhar no espelho, nem eu sou o mesmo, quem dirá aqueles com quem perdi o contato diário há mais de 20 anos.

A amada tecnologia apareceu por aí dia desses como quem não quer nada e resolveu diminuir distâncias. A falsa proximidade é um alento no começo, mas com o tempo, esse implacável, as coisas se mostram como realmente elas são. Não tem rede social no mundo que faça aproximar diferenças que foram formadas no meio dos hiatos. As pessoas mudam e nem sempre é para melhor.

O Whatsapp é o propagador de tudo que não presta nesses períodos que antecedem o pleito eleitoral deste ano. É por lá que a horda favorável ao capitão peidão propaga todos os tipos de mentira que atingem os cérebros menos questionadores. Eu, que me acredito cético, desacreditei ao ver proferido no grupo dos meus amigos de adolescência, no mesmo aplicativo de mensagens, os bordões tagarelados e sem visão crítica amplamente difundidos pela direita acéfala. Acreditem, até o famigerado “vai pra Cuba” foi propagado lá. Juro.

E ai que a dúvida bateu mais no peito mais do que na cabeça. Em que momento pessoas que tiveram a mesma formação que eu viraram essas criaturas que aplaudem atitudes facistas e adoram adoradores de torturadores? Viemos do mesmo lugar e tivemos ensinamentos na mesma sala de aula. Quantas fitas k7 do Racionais MC’s, do Devotos do Ódio, DFC, Chico Science & Nação Zumbi, Rage Against The Machine, Pink Floyd trocamos entre nós e mesmo assim nada do que era dito nas letras dessas bandas ficou para essas pessoas.

Detalhe que nenhuma delas virou um mega empresário pró-capitalismo ou um grande acadêmico liberal. Se fossem, talvez não repetissem tantos chavões. Não. São meras pessoas da classe média, de pensamento mediano e que creem que pensamento crítico é chamar a Rede Globo de comunista ou xingar qualquer de esquerda e blasfemar tudo que seja vermelho. Não me espantaria que cortassem o tomate de sua dieta simplesmente por conta da cor do vegetal.

Certas coisas e pessoas precisam ser deixadas para trás. Para nossa saúde mental. É necessário. Tempo suficiente já foi passado longe delas e até hoje a vida permaneceu a mesma. Termino esse texto com um trecho da música “Canção Para Amigos”, do Dead Fish, mais uma dessas bandas que ouvíamos juntos enquanto nos empurrávamos em alguma roda de pogo ao 14 anos de idade. Duvido que ainda hoje eles entendam o que essa música queria dizer. Talvez nem entendam essa crônica.

“Acho que crescemos demais
Aconteceu o que temíamos
Não vamos mais nos entender
Se foi a natureza ou o sistema, só o tempo, dirá”.

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