ZAL #03 Guerras Híbridas

A terceira edição do Zona Autônoma Literária, o podcast pirata das editoras independentes, teve como tema ‘Guerras Híbridas, Golpes e Revoluções Coloridas’, muito apoiado no atual momento da política e sociedade brasileiras, claro. A bancada recebeu os seguintes convidados:

Igor Fuser, professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). Está participando de uma série de debates para apresenta o livro “Guerras Híbridas: das revoluções coloridas ao golpes” (editora Expressão Popular), escrito pelo jornalista Andrew Korybko, no Brasil.

Pedro Marin, autor do livro “Golpe é Guerra” (editora Baioneta). Cobriu as eleições regionais na Venezuela para a Revista Opera, onde é editor. O site foi o primeiro no Brasil a ter um correspondente na guerra civil ucraniana.

Aldo Sauda, tradutor do livro “Como esmagar o fascismo”. Cobriu os conflitos na Primavera Árabe no Egito e na Síria para a grande imprensa.

O podcast teve apresentação de Paulo Junior, condução de Cauê Ameni e Hugo Albuquerque, leitura de Manuela Beloni e o quadro de poesia com Guilherme Ziggy. Até a próxima!

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ZAL #02 Economia, fascismo e eleições

ZAL #02: “Não tem austeridade grátis: o custo social do neoliberalismo e o ressurgimento do fascismo”

Bolsonaro e sua tropa de apoiadores fanáticos se constituem como uma organização neofascista? Como se organiza a nova direita brasileira? O que os planos de austeridade econômica têm a ver com isso? Para debater todas essas questões e indicar alguns livros que estão sendo lançado pelas editoras independentes, o segundo programa da Zona Autônoma Literária convidou uma bancada de autores, editores e pesquisadores de peso, em gravação logo após o primeiro turno das eleições presidenciais.

São eles: Henrique Carneiro, professor de história da USP que está assinando o prefácio do livro Como Esmagar o Fascismo, de Leon Trotsky, que será lançado este mês pela Autonomia LiteráriaCamila Rocha, mestre e doutorando em Ciência Política pela USP, membro do Grupo de Trabalho Derechas Contemporáneas: dictaduras y democracias pela CLACSO – escreveu capítulos nas coletâneas Direita Volver, da Editora Perseu Abramo, e Ódio como Política: a reinvenção das direitas no Brasil que acaba de ser lançado pela Editora Boitempo; e Hugo Albuquerque, mestre em direito constitucional pela PUC-SP, advogado ativista e editor dos livros E os Fracos Sofrem o que Devem?, escrito por Yanis Varoufakis, e Economia para Poucos, organizado por economistas e pesquisadores para debater os impactos da austeridade no Brasil, ambos lançados pela Autonomia Literária.

As leituras do programa são exatamente dos livros já citados – o prefácio de Como Esmagar o Fascismo, em texto de Henrique Carneiro, e o início do capítulo O boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou militância?, de Camila Rocha, no livro Ódio como Política.

Apresentação da mesa e leituras: início até 12min00
Debate: a partir de 12min

Tem também, como de costume, cupom de desconto para compra de livros e o quadro que trás a voz da poesia das ruas. O ZAL debate política, economia, cultura e temas urgentes do nosso tempo, sempre sob mediação dos últimos lançamentos de uma rede de selos parceiros. E mais: senso crítico sobre o mercado editorial e as novidades do mundo dos livros no Brasil e no mundo. Uma produção de Paulo Junior, Cauê Ameni, Daniel Corral e Guilherme Ziggy.

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Os tiros de Porta Nuova

A violência no futebol italiano e mundial é bem mais antiga do que se imagina. Os primeiros casos de brigas entre torcedores foram relatados na véspera da primeira guerra mundial. Foi no período da subida ao poder do fascismo que a velha bota conheceu sua primeira onda de violência, entre 1919 e 1925. Árbitros e jogadores agredidos, ônibus apedrejados, agressões físicas e verbais. Relatórios recentes dos arquivos do ministério do interior italiano, das delegacias de policia e da imprensa comprovam a existência precoce deste fenômeno principalmente na Itália central e setentrional. A final do campeonato da Itália do norte entre Bolonha e Genoa é um famoso exemplo disso.

Nos meses de junho e julho de 1925, a final do campeonato italiano do norte fora realizada por diversos jogos disputados entre Bolonha e Genoa. A tensão esteve no auge depois de uma longa e cansativa temporada. A primeira final disputada em Milão foi o palco de várias irregularidades. O Bolonha perdia por 2 a 1 e conseguiu o empate de maneira bem pitoresca, digamos assim. A bola saiu pela linha de fundo do ataque do time bolonhês quando de repente a torcida sentada na beira do campo pegou a bola e passou para Bellini que assim marcou o gol salvador. O árbitro Mauro invalidou o lance no primeiro momento, mas ao perceber a fúria dos tifosi na beira do gramado resolveu revalidar o gol. Segundo o jornal La Stampa do dia 9 de junho de 1925: “Mauro tentou sair de campo, mas decidiu ficar e depois de 13 minutos de discussão acabou validando o gol”. Revoltados com o lance, os dirigentes e jogadores do Genoa decidiram abandonar o campo.

Não precisaria nem ressaltar que os jogos seguintes foram disputados em um clima bem pesado. Deste modo, na véspera do jogo disputado em Turim, na cancha da Juventus localizada em Corso Marsiglia, o jornal Paese Sportivo anunciou que “por determinação das autoridades não seria permitida a entrada de pessoas munidas de bastões.” No dia seguinte da peleja, o mesmo jornal publicou que todas as precauções foram tomadas para que o jogo fosse realizado na mais perfeita calma. “Em volta do retângulo de jogo, um cordão de isolamento foi formado por Carabinieri, um militar a cada três metros”. Ao que tudo indica o resultado foi satisfatório já que o jogo terminou numa boa, ainda com um empate de 1 a 1.

No entanto, a tensão ficou para o lado de fora do estádio. Na estação de trem de Turim. O jornal Paese Sportivo, no dia 6 de julho de 1925, publicou: “Na estação de Porta Nuova, vários incidentes ocorreram durante a partida de dois trens. Torcedores do Genoa e Bolonha brigaram dentro da estação. Tiros foram disparados de dentro do trem que saia para Bolonha às 20h40. Há relatos que um torcedor genovês fora atingido”. O Gazzetta del Popolo publicou no dia 6 de julho de 1925 que os meliantes abriram fogo quando o trem saia da estação e que a maioria dos disparos foram para o alto, porém alguns tiros atingiram o trem da torcida adversária. Uma pessoa ficou ferida, foi um estivador do porto de Genova, Francesco Tentorio, alvejado na perna esquerda.

Os comentários de uma imprensa controlada pela censura desde o estabelecimento da ditadura fascista em 1925 mostram que longe de ser um fenômeno isolado, os tiros da estação de Porta Nuova eram a expressão máxima da paixão futebolística. Os comentaristas da época não se espantaram com o episódio já que era factível um incidente por causa das condições impostas aos torcedores. As discussões entre torcidas rivais pareciam aos olhos dos jornalistas um elemento natural do espetáculo esportivo. Quando o jogo terminava, as provocações continuavam na saída dando ensejo a algumas brigas. Segundo os jornalistas, os torcedores faziam de tudo para ajudar o time utilizando todos os meios possíveis e imaginários. Outros responsabilizaram os clubes por contratar trens privados para o transporte de 500 a 1000 torcedores a cada jogo. O objetivo era mostrar a força de sua torcida no campo adversário como assim relatou o Gazzetta del Popolo: “Só os times não parecem ser o suficiente, é preciso a presença dos torcedores com o objetivo de colocar os rivais anfitriões em posição de inferioridade e preparar um ambiente propicio à vitória” .

Pode-se comparar algumas repreensões como aquelas cometidas contra os inimigos do fascismo. A FICG puniu o clube bolonhês com uma multa pesada de 5 000 liras por não divulgar a lista dos torcedores culpados do incidente de Porta Nuova. Um agrupamento formado por torcedores reuniu mais de 1 000 pessoas na Piazza Nettuno, no coração de Bolonha. Organizada por um conselheiro municipal, o capitão Galliano, a manifestação tinha por objetivo apoiar o clube que havia negado a deliberação estatal. Apesar da ocupação da praça, o clube foi obrigado a ceder. O estado fascista estabeleceu uma legislação especifica para os encontros esportivos. O decreto-lei de 6 de agosto de 1926 instituiu a obrigação da dupla autorização, prefeitura e governo, para a realização de um jogo internacional (artigo 1) e os jogos nacionais deveriam ser realizados após a aprovação do prefeito ao menos um mês antes (artigo 5). Tais medidas não foram suficientes para sufocar o espírito do tifosi, mas a febre futebolística do pós-guerra estava sob controle.

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