Não há mocinhos na disputa entre o Sport e a Liga do Nordeste

Decidi escrever este texto apenas para pontuar algumas questões que aparecem nos debates que envolvem o futebol nordestino. Longe de mim querer escrever algo definitivo. Minha intenção é tão somente reunir alguns pontos de vista que sirvam como elementos para os nossos debates do dia. Mas vamos direto às questões que quero trazer.

O ano de 2017 ficou marcado como um ano de muito sucesso para a renovada Copa Nordeste. Neste mesmo ano, Bahia e Sport protagonizaram uma das maiores finais da história desta competição, afinal entraram em campo nada menos que 5 títulos, sendo 3 do Sport (1994, 2000 e 2014) e 2 do Bahia (2001 e 2002). Haveria muito o que se comentar sobre esta nova fase da Copa Nordeste, retomada em 2013, mas, por ora, quero me deter um pouco nos conflitos que emergiram entre a diretoria do Sport e a Liga do Nordeste do ano passado para cá.

Tudo começou quando o Sport anunciou que não disputaria a Copa do Nordeste de 2018. E de fato não participou, tendo anunciado há poucas semanas, inclusive, que não disputaria também a Copa do Nordeste de 2019. Como justificativa, a diretoria do Sport, capitaneada pelo Presidente Arnaldo Barros, tem alegado reiteradamente duas justificativas: a primeira delas é que a competição não seria rentável para os clubes. A segunda seria a maratona de jogos a ser enfrentada, considerando os parcos recursos para os clubes nordestinos poderem disputar, em grande nível, várias competições simultâneas.

Antes de mais nada, quero reforçar aqui o que tenho dito e me posicionado firmemente: me considero no campo de oposição à gestão atual do clube, tocada pelo Arnaldo Barros. Tenho muitas críticas e acredito fortemente que eles têm posto a perder muito do que conquistamos nos últimos anos. Dito isto, e explicitada minha posição enquanto torcedor diante da gestão atual do clube, retomo o título deste texto: não há mocinhos nesta disputa entre a diretoria do Sport e a Liga do Nordeste.

Feitas as considerações, vamos ao central. As duas críticas levantadas pelo Sport têm base concreta na realidade e merecem ser destacadas. A primeira delas é com relação ao fato de ser uma competição que não compensa financeiramente falando. E é verdade! Não são poucas as vezes que os representantes da Liga e o canal responsável pela transmissão televisiva repetem que a Copa Nordeste é a principal competição do 1º semestre do futebol brasileiro. Afinal, atinge um grande público-alvo, diferente dos localizados estaduais. Mas eu me pergunto que importância é esta ao analisar os números relacionados às cotas televisivas em comparação com outras competições do mesmo período. Vamos a eles:

Considerando os clubes que receberiam potencialmente a maior cota na Copa Nordeste (Santa Cruz, Bahia, Vitória e Ceará), temos um valor mínimo de R$ 1 milhão, podendo chegar no máximo a R$ 3,5 milhões para quem eventualmente chegasse ao título de um destes clubes. Destaco que nenhuma equipe conseguiu chegar a este valor, afinal a competição foi ganha pelo Sampaio Correia, do Maranhão.

Agora vamos para as comparações. O Campeonato paulista distribuiu ao total, segundo números do ótimo blog do jornalista Cassio Zirpoli, um total de R$ 109,3 milhões. Deste valor, fora os R$ 17 milhões recebidos pelos 4 maiores clubes, temos uma cota de R$ 5 milhões, recebida pela Ponte Preta, e uma outra de 3,3 milhões, recebida por cada um dos demais clubes, como Red Bull, São Bento, Mirassol e todos os outros. Trocando em miúdos, podemos dizer que os menores clubes do campeonato paulista recebem apenas pela participação mais ou menos o mesmo valor que os maiores clubes do Nordeste se conseguirem chegar ao título. Ou, se preferirem, comparando as cotas de participação, vemos que até o Mirassol recebe mais de 3 vezes o valor recebido por Bahia, Vitória, Ceará ou Santa Cruz pela participação em cada competição.

Saindo do campeonato paulista, vamos para o Carioca. Os 4 maiores clubes receberam R$ 15 milhões cada um. Mas Boa Vista, Madureira, Nova Iguaçu e Volta Redonda receberam r$ 4 milhões apenas pela participação! Mais uma vez, trocando em miúdos, significa que cada um destes clubes recebeu 4 vezes mais que os maiores clubes do Nordeste pela participação no Nordestão.

E poderíamos até ir mais longe, como a cota de R$ 1,5 milhão pela participação de Juventude e Brasil de Pelotas no Gauchão ou a cota de R$ 2,9 milhões para o América pela participação no Campeonato Mineiro. O fato é que há uma incongruência no discurso entre a viabilidade da Copa Nordeste, no seu formato atual, e o valor recebido pelos clubes. Tenho uma suspeita de que há quem esteja ganhando bastante dinheiro com esta competição e, ao que aparece nos números, não são os nossos clubes de futebol.

A segunda questão a que quero me referir é sobre a maratona de jogos a que estão submetidos os nossos clubes ao longo do ano. O Sport em 2017 foi o clube brasileiro que mais disputou jogos: foram 81 distribuídos entre Pernambucano, Copa do Brasil, Copa do Nordeste, Sul-Americana e Brasileirão. Houve um momento em que o clube disputava as 5 competições de forma simultânea! É muito irreal pensarmos que um clube com as condições financeiras dos nossos conseguirão manter alto nível com tantos jogos. Tal maratona é complicada até para os clubes com orçamento várias vezes maior que conseguem montar planteis mais completos. Definitivamente não é o caso dos nossos. Este ano quem está sofrendo com isso é o Bahia, que a despeito de possuir um bom elenco, não consegue se firmar em nenhuma das competições. Não à toa tem sinalizado com várias ponderações à atual Copa Nordeste.

Pretendo finalizar agora, pois o texto já está saindo bem maior do que planejava. Mas tenho convicção que nesta história toda, reforçando, não há mocinhos. Fui contrário a saída do Sport da Copa Nordeste, me posicionando junto ao Movimento Democracia Rubro-Negra em discordância com a posição de Arnaldo Barros. E acredito piamente na força dos clubes nordestinos e na sua viabilidade, conhecendo de perto a força de cada uma de suas torcidas. Mas não sei se o caminho passa por entrar no jogo desta disputa entre Rede Globo e a Turner, dona dos canais Esporte Interativo. Precisamos trabalhar esta unidade paralela à uma reconstrução do calendário do futebol brasileiro. Não dá para fazer arrumadinhos que sobrecarreguem os nossos clubes, sem compensação financeira, e achar que este caminho resolverá os nossos problemas. Não resolverá. E seguiremos penando e sofrendo diante de uma situação financeira cada vez mais distante de outros grandes clubes do país que vão se cristalizando em outro patamar.

Aristóteles Cardona Júnior é médico de Família e Comunidade e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco.

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Há 50 anos, um Nordestão salvava o Sport da decadência

Time do Sport campeão do Torneio Norte-Nordeste de 1968 (fonte: Diário de Pernambuco 24/12/1968)

Começamos o Baião de Dois, nesse ano da graça de 2018 (a terceira temporada!), no dia preciso da estréia da gloriosa Copa do Nordeste em sua sexta edição nessa “nova fase”. É importante falar “nova fase” porque esse torneio regional já contou com vários formatos e nomenclaturas.

Nesse ano teremos uma (infeliz) e impressionante coincidência: completa-se 50 anos da realização do Torneio Norte-Nordeste de 1968. Vencido por ninguém menos que o Sport Recife, aquele clube que optou por não participar da Copa do Nordeste de 2018 (veja mais sobre o caso aqui).

Seria apenas mera coincidência se fosse apenas uma questão de data. E é esse o caso que o Baião de Dois traz, aproveitando o início da nossa terceira temporada e a estréia da Copa do Nordeste.

O Torneio Norte-Nordeste foi realizado de forma paralela à chamada Taça de Prata, em 1968, 1969 e 1970. Era conhecido por “Nordestão” na grande imprensa, apesar de contar com a presença de um grupo de nortistas, reunidos na “Chave Norte”, cujo vencedor enfrentaria na final o campeão da “Chave Nordeste”, que contava com três grupos e um número bem maior de clubes. Nas três edições os campeões foram respectivamente Sport, Ceará e Fortaleza.
Para contextualizar o final dos anos 1960

Era um tempo em que as distância eram muito maiores e as informações só chegavam na voz dos locutores dos rádios e em poucas páginas de jornais impressos. Os “olhos” dos torcedores espalhados pelo país eram os olhos dos ditos “cronistas desportivos”, responsáveis por construir o futebol brasileiro ao longo de muitas décadas. E era um momento chave para a Ditadura Civil-Militar se apoderar do futebol para fins de propaganda.

Afinal, o país era bicampeão mundial e ainda contava com Pelé em seus gramados. O Mundial de 1970 seria decisivo para a propaganda do governo, e a cobrançados clubes e da crônica esportiva pela realização de um campeonato nacional “de verdade”, era intensa. A Taça Brasil, então “nacional” da época, estava se esvaziando, pelo baixo número de confrontos entre os clubes do Rio e de São Paulo, desde sempre lideranças políticas do futebol nacional – que inclusive não concordavam com o formato regionalizado do certame. O discurso também era contrário à reprodução dos campeonato estaduais, considerados muito deficitários já à época.

Foi assim que os tais grandes resolveram intensificar o então Torneio Rio-SP em 1967, transformando-o na Taça Roberto Gomes Pedrosa, também chamada de Taça de Prata; realizando-a de forma paralela à Taça Brasil. Mas como chamar um torneio com cinco clubes de dois estados de “nacional”? Eis que surgem os convites para dois mineiros, dois gaúchos e um paranaense.

Como vingou na sua primeira edição, no ano de 1968 a Taça Brasil acabou sendo literalmente abandonada por clubes paulistas, que focaram na Taça de Prata, novamente ampliada: Bahia e Náutico seriam convidados para dar ainda mais “consistência” nacional ao torneio, que finalmente ultrapassava as fronteiras do “norte”. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD), já aparelhada pelos militares, atenta às movimentações, passaria a tomar para si a organização do certame (essa mudança confusa inclusive causou a ausência de brasileiros na Libertadores de 1968).

Vale considerar que o futebol nordestino na época era marcado por uma discussão sobre a falta de estádios de grande porte – outro “ramo” posterior de investimentos da ditadura no futebol. Isso causava uma defasagem ainda maior com os clubes do eixo, uma vez que a parte mais importante dos recursos dos clubes era proveniente das rendas. Ainda que clássicos baianos, pernambucanos e cearenses batessem na casa dos 40 mil pagantes, isso ainda era considerado pouco em comparação aos jogos no Maracanã e no Pacaembú, ou nos recém-inaugurados Mineirão e Beira-Rio, e o futuro completo Morumbi.

Esse fato, inclusive, perdurou como um argumento para criar algum “pré-requisito” para o convite à Taça de Prata. E assim as três edições “cebedeenses” da competição mantiveram o mesmo formato e número de participantes. A única alteração, do ponto de vista nordestino, foi a troca do Náutico pelo Santa Cruz em 1969 e 1970. Enquanto isso, América, Bangu, Ponte Preta e Lusa – clubes notadamente médios em seus certames – puderam participar como “quinto” carioca e paulista.

Com a CBD à frente da Taça de Prata e com a notícia do encerramento da Taça Brasil rodando, a solução encontrada foi autorizar a realização de torneios que colocassem em atividade os clubes ausentes nessa nova competição de nível nacional. É aí que surgem o Torneio Norte-Nordeste e o Torneio Centro-Sul.

Torneio Norte-Nordeste, ou “Nordestão” para os íntimos

A ideia desses torneios, além de dar atividade aos clubes, era de legitimar a Taça de Prata como um torneio nacional, em contraste com os dois “regionais”. Apesar das promessas de que uma disputa entre campeões desses torneios os credenciaria a uma final contra o vencedor da Taça de Prata, a fim de definir o verdadeiro campeão nacional, isso nunca aconteceu. E o Centro-Sul, na verdade, só aconteceu por um único ano: não contou com tanto apelo quanto o Nordestão.

O Torneio Norte-Nordeste, no entanto, seguiu existindo, inclusive até 1972 (é preciso uma outra contextualização, por isso vamos nos resumir aos que ocorreram em paralelo à Taça de Prata). Em sua edição de estréia, organizado poucos meses antes, a promessa de que ele seria um torneio seletivo para outra competição era pública. Isso não acontecendo, o Nordestão precisava ser visto então como um torneio secundário, mas não necessariamente uma divisão inferior, afinal, não havia critério claro (senão a indicação política) para os competidores da Taça de Prata.

Apesar da ausência de duas grandes forças, Bahia e Nautico ou Santa, o torneio era considerado importante para os clubes locais (apesar das queixas de falta de apoio financeiro da CBD). Seu destaque era grande nas páginas dos jornais locais, e ganhavam alguma relevância nos jornais maiores. Diário de Notícias, Correio da Manhã, Jornal do Sports, Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo são exemplos de periódicos do eixo RJ-SP que noticiavam, em diferentes medidas, a competição.

Bastidores da organização do Torneio Norte-Nordeste (fonte: Diário de Notícias 11/08/1968)

A reportagem do Diário de Notícias destacada acima é curiosa pelo nível de detalhes e cobertura dos bastidores, partindo de um jornal que, inclusive, era opositor da ditadura (e teria sido fechado pela perseguição promovida pelo regime). A ênfase era sempre sobre a criação de um torneio que ultrapassasse as fronteiras estaduais, bem como proporcionasse maiores rendas aos clubes. Uma outra interessante reportagem do Diário de Notícias com referência ao Nordeste foi uma entrevista com um diretor do Santa Cruz, de título “Gradim: ‘Falta de estádios retarda o progresso do futebol nordestino’”.

Com a dificuldade de superação das grandes distâncias, o torneio era pensado para cruzar os vencedores do torneio do Nordeste com o do Norte, mas ao que as páginas da época nos mostram, a conquista da fase nordestina já proporcionava grande comemoração aos clubes. É algo que aparece com o Sport em 1968, com o Ceará em 1969 e com o Fortaleza em 1970.

Na edição de 1969 está outra curiosa coincidência que retorna quase 50 anos depois: a federação baiana, em uma crise interna e buscando conquistar maiores benefícios ante a CBD e ao regulamento do torneio, ameaçou inscrever dois clubes menores no Nordestão. Os clubes cobravam maiores participações nas rendas dos jogos fora de casa (lembrem que não exisita cota televisiva), e esvaziar o torneio era uma forma de pressionar.

Isso causou uma reação da federação pernambucana, que disse que não inscreveria Náutico e Sport se assim permanecesse, que também provocou protestos da federação cearense. Uma matéria do Diário de Pernambuco aponta que o Vitória denunciou uma a ação da federação local tinha “propósito desmoralizar torneio”. Depois de diversas reuniões a federação aceitou inscrever Galícia e Bahia de Feira, deixando o Vitória de fora.

Baianos também protagonizaram boicote mesquinho no Nordestão (fonte: Diário de Pernambuco 10/09/1969)

O caso curioso – noticiado em diversos dos jornais pesquisados – nos lembra uma movimentação recente em que uma federação e um clube provocaram uma crise no Nordestão. Naquela época esse clube implorava para que esse certame não deixasse de existir.

Sport na seca, bateu rival e fez carnaval com Nordestão

O Náutico era o todo poderoso no certame local, colecionou títulos em cima dos rivais, dentre eles o hexa-campeonato, e era o bicho-papão e sempre representante do Nordeste na antiga Taça Brasil. No seu encalço o Santa Cruz disputava títulos e prestígio, sendo o queridinho da CBD na formação da Taça de Prata, onde só os “eleitos” participavam, também acumulou taças por cinco anos consecutivos.

O jejum do Sport era imenso, inédito e dolorido. Após ser vice seis vezes consecutivas para o Náutico, o rubro-negro via o Santa Cruz crescer sob o comando do gringo James Thorp, exatamente o algoz do sétimo vice seguido. Depois do último título em 1962, o Leão da Ilha só voltaria a conquistar um campeonato estadual em 1975. Ainda deu tempo do Santa Cruz ser penta-campeão e o Náutico também sair da fila depois da única glória do clube em todos esses anos: o Torneio Norte-Nordeste 1968.

E como comemorou a torcida do Sport. As páginas do Diario de Pernambuco contavam a festa depois da vitória acachapante em 4 a 1 em cima do arquirrival tricolor (que no ano seguinte jogaria a Taça de Prata). Ilha do Retiro abarrotada, festa em campo e na quadra e jogadores recebendo faixa.

Dias depois o convite para a torcida em forma de anúncio na edição de 28 de dezembro de 1968:

Parecia pouco importar que o título de fato só se consumaria após o confronto contra o vencedor do Norte (que seria o Remo, igualmente batido pelo Sport).

Jornal local exaltava a festa com estádio lotado (fonte: Diário de Pernambuco 24/12/1968)

O Sport ainda voltaria a apostar suas fichas nos dois torneios seguintes. Em 1969 foi líder disparado do Grupo 2, mas acabou fracassando no quadrangular final. O vencedor dessa fase enfrentaria o Remo, novamente campeão do Norte. Deu Ceará no quadrangular e na final.

Em 1970 o Sport alcançou o Hexagonal Final do Grupo Nordeste, quando passou em primeiro, junto ao Fortaleza. O formato nesse ano previa um quadrangular final com os vencedores do Norte, que eram Fast e Tuna Luso. Como começou mal, o Sport enfrentou o Fortaleza precisando da vitória, ou o título ficaria com os cearenses. Para evitar a perda do título, seus dirigentes contrataram por empréstimo, às pressas, o jogador Copeu, diretamente do Palmeiras.

A estratégia não vingou e a taça voltou à capital do Ceará.

Moral da história: o Sport Club Recife hoje alega ser grande demais para disputar o Nordestão. Um torneio que em um momento da história foi a salvação, o respirar aliviado, de toda uma geração de torcedores rubro-negros, quando o leão era considerado pequeno para ser convidado para os torneios nacionais, preterido pelos seus maiores rivais.

O mundo do futebol dá muitas voltas. A manobra mesquinha e obscura da diretoria do Sport para tentar detonar a Copa do Nordeste, atendendo a interesses de terceiros, representa um crime contra sua própria história. E abre a brecha no espaço-tempo para uma nova decadência.

*Irlan Simões (@IrlanSimoes) é jornalista e pesquisador do futebol. Participa do Baião de Dois na Central3. Autor do livro “Clientes versus Rebeldes – novas culturas torcedoras nas arenas do futebol moderno”.

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Pernambuco, a vergonha do Nordeste

*Por Anderson Santos

Depois de anos com o lenga-lenga de ameaçar sair da Liga do Nordeste caso não tivesse seu mimimi elitista atendido, finalmente Náutico e Sport anunciaram o rompimento na última sexta-feira. Se os boatos geraram uma célebre frase no último Baião de Dois nesta Central 3, a confirmação gerou uma revolta de nível bélico no conselho editorial do programa, com uma decisão: guerra a Pernambuco!

A nova fórmula apresentada para 2018 tentou dirimir um dos problemas do torneio nos últimos anos. No formato de 20 times, sempre aparecia um ou mais casos de sacos de pancada (vide Uniclinic na edição deste ano), assim o número foi diminuído para 16, considerando ainda que a partir de 2019, para garantir que times “grandes” não ficassem de fora, as vagas fixas serão definidas pelo ranking da CBF, ponto este que discordamos, mas daria maior atratividade a cada disputa em campo – este ano o Ceará, que foi eliminado nas quartas de final do Cearense do ano passado e, logo, não poderia participar da CNE, resolveu aderir à Primeira Liga, mas você sabe que esse torneio está sendo disputado?

Os três de Pernambuco foram contrários, devido à perda de uma vaga direta (mantém as outras duas para campeão e vice), mas ficaram isolados e perderam dentro da Liga. E o que se faz num país como o Brasil quando se perde algo? Dá-se um golpe!

Os clubes reclamam de uma maior cota, pois ganham mais no fixo dos direitos de TV do Pernambucano que ao participar da primeira fase do torneio nordestino – ainda que possam ganhar bem mais se avançarem. Na cabeça bairrista pernambucana, seus times são, junto aos da Bahia, os principais Estados do Nordeste e seria por eles que existe o torneio, logo deveriam ter mais vagas e mais dinheiro que os outros, numa reprodução irritante da espanholização do futebol nordestino, que sumiu da Espanha por decreto legal, mas cresce a olhos vistos no Brasil.

Mais revoltante nisto tudo é que os mesmo times que reclamam de vez em quando da desigualdade nacional nos acordos contratuais da Globo no Brasileiro são os que querem reproduzi-la num torneio criado para destacar os clubes da região– e muito atacado historicamente pela oligarquia do futebol brasileiro, de CBF a Globo e, especialmente, pelas federações estaduais.

Os times pernambucanos entraram na onda de Evandro Carvalho, presidente da federação de seu estado, que vem sendo o grande crítico da Copa do Nordeste nos últimos anos, defendendo o seu quinhão, o Campeonato Pernambucano, que, como todos os Estaduais locais, divide, especialmente nos últimos 3 anos, as datas do primeiro quadrimestre com a CNE.

Vale lembrar que o Sport não quis participar da edição de 2010, após acordo judicial da Liga com a CBF para o retorno do torneio após o corte do único regional de sucesso do país em 2003, de forma unilateral. E não custa lembrar que seu então presidente, Luciano Bivar, fora presidente da Liga no início dos anos 2000, com os pernambucanos fazendo parte da mesma por discordarem da FPF. Quanto ao Náutico, não conseguiu ficar sequer em 3º lugar no Estadual e faz uma das piores campanhas da história dos pontos corridos na Série B do Brasileiro. O Santa Cruz ainda não se pronunciou, depende de decisão do conselho deliberativo, e, por enquanto, enfrentará o Itabaiana-SE no Pré-Nordestão.

Pernambuco tenta levar Bahia e Vitória juntos, mas o primeiro é parceiro do Esporte Interativo na TV fechada e se negou a perdê-lo. O intuito deste grupelho agora é criar uma nova liga com o que consideram ser a elite nordestina, 8 clubes – e uma segunda divisão também de 8 clubes. O típico processo de menino mimado dono da bola que, ao perder o jogo, a pega e leva para casa. Com a diferença primordial que a CNE é um produto excelente também em outros Estados considerados “menores” por eles – vale lembrar que os dois times de Sergipe passaram para as quartas de final deste ano e os públicos dos dois clássicos entre CSA e CRB na primeira fase do torneio.

A saída da Liga não significa necessariamente a do torneio – preferimos até publicar este texto antes da coletiva dos presidentes de Sport e Náutico para não saber a decisão. Mas, já que querem sair, que saiam, mas não voltem nunca mais! Façam um viaduto da arena de São Lourenço da Mata, já que é para ficar na “modernidade”, para Rio de Janeiro e São Paulo! Espera-se que os outros times do Nordeste não só não entrem nessa onda, como tentem fortalecer a CNE. Que Pernambuco pague pela decisão tomada!

 

*Anderson Santos é professor da Universidade Federal de Alagoas, jornalista e mestre em Ciências da Comunicação.

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Diego Souza e a mania de provar que estou errado

*Por Gil Luiz Mendes

É uma questão de dar o braço a torcer. E torcer para sempre estar errado. E permanecer na torcida para sempre reconhecer que algo não é assim como você acredita cegamente. Todo esse preâmbulo existencialista serve apenas para dizer que Diego Souza calou-me, queimou a minha língua e me fez baixar a guarda. Não, não é fácil admitir que o craque do time rival merece estar onde estar. Dói aceitar, mas isso que deve ser feito.

De antemão quero deixar claro que não fui e permaneço não sendo fã do camisa do 87 do Sport. Isso não é de hoje, apenas por ele atuar na Ilha do Retiro. Nunca achei nada demais quando ele jogou pelo Fluminense, muito menos quando fez parte do elenco do Flamengo e nem quando fazia golaços impressionantes pelo Palmeiras. Sempre reconheci suas qualidades, mas por uma questão pessoal, o estilo de futebol dele nunca me agradou. Pelo excesso de marra dele? Excesso de marra minha? Talvez. Certo que sempre tive o pé atrás.

Mas até ele pisar em Pernambuco, confesso que não me incomodava muito a figura dele. Tive o mais fútil dos sentimentos, a pena, quando ele perdeu aquele gol na Libertadores pelo Vasco e fez o título corintiano parecer mais místico. Assim como muitos, achei que a carreira dele tinha se encerrado ali e o mundo árabe e Leste europeu era o que lhe sobraria para um endinheirado e digno fim de carreira.

Mas eis que o time pernambucano ganhou a disputa por ele com outros clubes da região Sudeste e colocou um ponto de interrogação na cabeça de muito torcedor. Mesmo com estrutura, salários em dia e projeção nacional, para muitos ainda era absurdo conceber que um time nordestino pudesse ser mais atraente do que tradicionais clubes do chamado eixo. Quando confirmada a contratação de Diego Souza fui um dos que declararam que ali estava se iniciando a despedida dele dos campos.

Motivos e exemplos não são poucos, tendo em vista os inúmeros jogadores que seguiram o roteiro SP/RJ – Europa – Leste Europeu /Mundo Árabe – Nordeste – Aposentadoria. Por que com ele seria diferente? Mesmo sem ganhar títulos, Diego Souza já pode ser considerado o maior jogador do Sport nesta década. Com ele o clube alcançou um inédito sexto lugar na era dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro, em 2015 e no ano passado foi artilheiro da mesma competição.

Janeiro de 2017. Convocação para o amistoso contra a Colômbia para ajudar as vítimas do fatídico acidente que vitimou boa parte do time da Chapecoense. Apenas jogadores brasileiros foram chamados, dentre eles Diego Souza. Um chamamento político para agradar e envolver o maior número possível de torcedores. Todos os times de de RJ, SP, RS e MG tiveram pelo menos um jogador convocado.

Usei as redes sociais que o meia/atacante do Sport tinha totais condições para vestir a camisa amarela, mas estava sendo chamado por fazer parte do que chamei de cota Nordeste. Ele ou Marinho, que nessa época já tinha se mandado para a China, poderiam ser chamado para contemplar esse espaço aberto nessa convocação. Muitos guardaram aqueles meus posts.

Semana passada essas publicações foram trazidas à tona por irônicos e raivosos torcedores do Sport. Diego Souza foi novamente convocado por Tite, não mais por motivos políticos e para um jogo festivo, mas para representar o Brasil nos próximos dois jogos das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Dessa vez foi chamado por tudo que jogou em 2016 e não pelo que apresentou até agora este ano.

DS87, como a torcida costuma se referir ao jogador nas redes sociais, estará na Copa da Rússia? É o substituo imediato de Gabriel Jesus? Seria o jogador ideal da minha seleção? Para todas essas perguntas, minha resposta é não. Sim, posso estar errado como diversas vezes estive quando o assunto é Diego Souza. E se assim for, guardem este texto para esfregarem na minha cara no futuro. Estarei por aqui para dizer novamente que estava errado.

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