O Som das Torcidas #145 Política

Voto Latino!

O futebol como espelho da sociedade reflete o processo democrático – e também a falta dele – como veremos em dez arquibancadas que se inspiram em jingles políticos, fazem campanha para candidatos ou protestam contra os governantes!

Posts Relacionados

Fronteiras Invisíveis do Futebol #62 Uruguai

La Celeste!

Voltando à programação normal, cruzamos a fronteira mais meridional do Brasil. que nem sempre foi visível e em alguns pontos é desnecessária, como na conurbação entre Rivera e Sant’ana do Livramento.

A terra dos charruas passou a ser chamada de Banda Oriental com a chegada dos espanhóis – no século XVI – referência a sua posição geográfica em relação ao rio Uruguai, de nome guarani. A região passou a ser disputada pelas coroas ibéricas, sempre que um conflito era deflagrado na Europa.

Esta situação permaneceu até a Guerra da Cisplatina (1825-28), quando os orientales finalmente conseguiram a sua independência. Contudo, o recém-formado país observou uma polaridade política muito forte entre Lavalleja x Rivera e posteriormente Blancos x Colorados, que se refletiu no futebol durante o século XX, já que Nacional e Peñarol construíram uma sólida hegemonia, tal qual os partidos tradicionais.

O quadro só se reverteu com o surgimento da Frente Ampla, no campo político, e os títulos dos cuadros chicos como Bella Vista, Central Español, Progreso e, principalmente, a dupla Danubio e Defensor, que revelaram muitos jogadores que contribuíram para a volta da seleção uruguaia ao cenário mundial, sob o comando do Maestro Tabarez.

Posts Relacionados

Conexão Sudaca #164 El Tanque Sisley

Edição a puro huevo do Podcast DEL PUEBLO! No primeiro bloco, Matias Pinto entrevistou Ademar Martínez que defendia o CCyD El Tanque Sisley, clube que foi excluído da Primera División por dívidas com os jogadores.

Já na segunda parte, foi a vez de Leonardo Lepri Ferro se somar ao nosso condutor para falar sobre mais uma semana de Copa Libertadores e também ouvirmos o relato in loco de Bruno Fares – apresentador do It’s Time – que esteve apoiando o Palmeiras diante do Boca Juniors!

Quem trouxe outro depoimento picante foi EL BIGLIA DE LA GENTE que seguiu o Racing Club até São Januário, além de recordarmos os 15 anos da histórica vitória do Paysandu em plena Bombonera. Para fechar, uma homenagem ao roqueiro uruguaio Renzo Teflón, vocalista de Los Tontos, falecido na última segunda-feira (23/04).

Posts Relacionados

Reflexões uruguaias

Acabo de passar quinze dias no Uruguai. Fiz uma viagem de carro, junto com minha namorada, que passou pelo clássico triunvirato Punta del Este-Montevideo-Colonia del Sacramento, mas que também se aventurou pelo interior, chegando até a cidade de Tacuarembó, “capital de la patria gaucha”, conforme está na placa que adorna a entrada da cidade – que também guarda outro segredo que contarei mais à frente. Mas antes de chegar ao segredo, dividirei algumas coisas que notei sobre a relação do uruguaio com a música.

Estávamos em um ônibus comum, de linha, em Montevidéu. Sem turistas, só uruguaios indo trabalhar, e nós dois indo conhecer a “ciudad vieja”, o centro histórico da cidade. Entra um homem na faixa dos quarenta anos, de tênis, bermuda jeans, camiseta vermelha, boné, uma pancinha proeminente e um amplificador. Coloca o amplificador no chão do busão, fala algumas coisas em espanhol (fácil de entender que nem russo), bota um acompanhamento mecânico no ampli e começa a cantar ao vivo uma canção chamada “Si te dijeron”, do compostior Victor Manuelle, que ficou famosa na voz do porto-riquenho Gilberto Santa Rosa (procura no Youtube que tem). Bela canção, um bolero bem “cornudo”, e uma puta voz bonita do rapaz. Ele cantava no fundo do veículo e virado pra frente, ou seja, com quase todo mundo (nós éramos uma exceção sentados no último banco) de costas pra ele. A sensação que dava é que geral estava cagando pra música, que cada um estava em seu próprio mundo, pensando no trabalho, mexendo no celular. Mas aí veio o espanto: assim que ele terminou de cantar, o ônibus veio abaixo (ok, talvez eu exagere) em aplausos. Sinal do respeito que o povo tem pela música, e pelos artistas. Além de aplausos o cantor recebeu dinheiro, inclusive alguns pesos nossos, e desceu do ônibus, aparentemente sem pagar, como uma cortesia do motorista. Coisa bonita.

Eu disse acima a frase “mas aí veio o espanto”, antes de falar dos aplausos, mas é um pouco mentira de escritor, porque nem foi tanta surpresa. Isso porque antes desse episódio, quando estávamos na cidade litorânea de La Paloma, fomos a um restaurante com música ao vivo. Ali a primeira surpresa foi o músico tocar uma música brasileira atrás da outra (me lembro de algumas coisas de bossa nova e muito Caetano Veloso, inclusive com a frase “um filhote de leão, “rajo” da manhã”). Mas a surpresa maior foi que todo mundo batia palmas pro músico ao final de cada canção. Em um lugar em que a pessoa está para comer, em que a música é só um bônus, isso é bastante raro de se ver – gente largando os talheres no meio da garfada pra bater palma. E não se tratava de um novo gênio da música uruguaia, era um rapaz comum, com uma voz comum e um violão comum. Bonito de ver.

Escrevi há pouco sobre “a primeira surpresa”, me referindo ao fato de o músico tocar brasileirices, mas escritor mente muito – e maus escritores contam que mentiram. Fato é que, antes disso, também na cidade de La Paloma, já tínhamos visto um DVD da Marisa Monte rolando dentro de uma loja de artesanato. O tal músico foi nosso segundo encontro com música brasileira na viagem. Mas não o último. Em Tacuarembó passamos umas duas horas em um café (tomando cerveja da Cabesas Bier) ao som de rap brasileiro, ouvindo um monte de coisas que eu nem sabia o que eram, além de bastante Gabriel O Pensador. Em Paso de los Toros, por onde passamos rapidamente, vimos uma molecada ouvindo “Vai malandra” da Anitta. E em Montevidéu suportamos um jantar inteiro ouvindo o primeiro cd (também inteiro) dos Tribalistas (que eu gosto, usei o verbo “suportamos” porque é cool falar mal dos Tribalistas).

Sobre o tal segredo da cidade de Tacuarembó, que talvez alguns já saibam: Carlos Gardel, o ícone do tango tão identificado com a Argentina, e que muitos acham que nasceu na França, na verdade é natural de Tacuarembó. Sim, isso ainda é motivo de controvérsia, mas a visita ao Museu Carlos Gardel é bastante eloquente ao afirmar que “El Mago” nasceu, sim, na cidade. Há até estudos comparando o rosto dele com os de seus supostos irmãos uruguaios. É famosa a frase do próprio Gardel, “nasci em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade” – o que já elimina a Argentina como seu local de nascimento. E o museu traz documentos e frases de Gardel que parecem não deixar dúvidas sobre donde veio à luz o Rei do Tango. Tacuaremboense, por supuesto!

Polêmicas à parte, a necessidade de “brigar” pela nacionalidade de um astro tão identificado com o país vizinho, somada à quantidade de vezes que ouvimos música brasileira durante a viagem, talvez, e apenas talvez, denotem que falta à música uruguaia alguma identidade própria, alguma luz que brilhe sozinha. Um país geograficamente tão pequeno, mas de caráter tão grande, e que tem um povo que respeita tanto a música, merece isso. E que fique claro que esta é apenas a análise superficial de alguém que ficou somente quinze dias no país – e que trouxe alguns cds na bagagem para descobrir o que é que o uruguaio tem.

Posts Relacionados